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“Minha gente, só um grande homem pode ser um bom político. E o Collor é um grande homem.”
Assim começava o famoso vídeo estrelado por Cláudia Raia durante o segundo turno das eleições presidenciais de 1989, em apoio a Fernando Collor de Mello. A atriz, então jovem e influente, aparecia confiante diante das câmeras, exaltando o candidato alagoano com palavras que hoje soam quase como ironia histórica: “Ele tem dignidade, educação, cultura. Ele é sério, íntegro. Ele é um homem bem nascido que não precisa do dinheiro do povo.”
O discurso seguia empolgado, convocando o eleitorado a “colorir o Brasil preto e branco” e vestir-se de verde e amarelo para votar “redondo, 20, Collor!”. Era o auge da emoção patriótica manipulada pela publicidade e, infelizmente, o prenúncio de uma das maiores decepções políticas da nossa história recente.
Naquele ano, eu tinha 16 anos, idade recém autorizada para o voto. Foi a minha primeira eleição. No primeiro turno, votei em Leonel Brizola, homem de palavra e princípios, ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Brizola ficou de fora por uma margem pequena de votos, Lula passou para o segundo turno, e Collor, embalado pela máquina midiática, venceu.
No segundo turno, meu voto foi para Lula , o primeiro e último voto que dei a ele. E confesso que, ainda jovem, me senti aliviado por não ter ajudado a eleger Collor, que logo se veria envolvido em escândalos de corrupção, renunciando ao cargo e ficando inelegível.
Hoje, ao rever o vídeo de Cláudia Raia, o sentimento é de lamento. Não por ela, mas por nós, pelo Brasil que insiste em repetir erros, em se encantar com rostos bonitos e promessas emocionadas, em vez de cobrar projetos, ética e seriedade.
Basta olhar para o cenário atual: continuamos divididos por ideologias rasas, elegendo governos da gastança, da negação e da conveniência, enquanto a corrupção segue corroendo as instituições. Para completar, vivemos agora sob o que chamo de “ditadura da toga”, um poder que extrapola seus limites e impõe decisões políticas sob o disfarce da Justiça.
Enquanto em países como os Estados Unidos, ex-presidentes permanecem respeitados e unidos em torno da nação, aqui seguimos presos a disputas mesquinhas, discursos de ódio e uma política que parece girar em círculos.
O vídeo de 1989 é mais do que uma lembrança curiosa. É um espelho cruel do nosso passado e um alerta para o futuro.