Mostrar mais resultados...

Por Décio Baixo Alves
O Brasil atravessa um de seus momentos mais sombrios. A sensação é de que o Estado de Direito foi sequestrado por um sistema que opera acima das leis, acima da Constituição e, principalmente, acima da vontade do povo. A Justiça, que deveria proteger o cidadão, virou palco de espetáculo e o “ditador da toga” reina soberano sobre um país paralisado pelo medo.
As prisões se multiplicam. Bolsonaro e todos os que um dia o cercaram enfrentam uma ofensiva implacável. Alguns estão detidos; outros, como Ramagem e Zambelli, conseguiram escapar a tempo. Eduardo Bolsonaro é alvo de novos processos; Flávio, inevitavelmente, será o próximo. Nessa engrenagem, o resultado nunca muda: os inimigos do sistema sempre pagam a conta mais alta.
Enquanto isso, o ministro Alexandre de Moraes segue inabalável, com um poder que nenhum juiz deveria ter. Ele julga, acusa, pune e é parte do próprio processo. Um poder concentrado que desafia qualquer definição de democracia. Nem mesmo as sanções internacionais, como as previstas pela chamada Lei Magnitsky, parecem arranhar o conforto e o prestígio do ministro e de sua família.
Lá fora, a esperança se dissolveu. Donald Trump, outrora visto como contraponto à onda progressista global, lavou as mãos. Perdeu a queda de braço e a tal “caça às bruxas” que ele criticava não só continuou, como se intensificou. A liberdade encolheu, o autoritarismo cresceu e o mundo, cúmplice, assiste em silêncio.
Internamente, Lula surfa tranquilo. Mesmo com o tarifaço que estrangulou o bolso do brasileiro, viu sua aprovação crescer. A mídia tratou as denúncias contra Moraes, como as feitas por Tagliaferro, com o habitual manto de silêncio. Nada prospera. A imprensa, que deveria ser o contraponto do poder, tornou-se sua cúmplice.
No Congresso, reina a covardia. Nenhum movimento sério de anistia, nenhuma discussão sobre os abusos do Judiciário, nenhum passo real em direção a uma CPI que investigue o que precisa ser investigado. O medo venceu a representação popular e a omissão virou rotina.
A corrupção, essa velha conhecida, segue intacta. A CPI do INSS expôs um rombo vergonhoso, e os gastos públicos continuam em ritmo de realeza: viagens, diárias, banquetes e um luxo que insulta quem vive com salário mínimo. O país sangra, e a elite política celebra.
No sistema prisional, o retrato da injustiça é brutal. Casos como o de Débora do Batom e de Clezão chocam pela desproporção das penas. Clezão, símbolo da seletividade da Justiça, morreu no cárcere, longe dos holofotes, como tantos outros esquecidos de um sistema que pune sem piedade os pequenos e absolve os poderosos. Essa é a face mais cruel da ditadura de toga.
Enquanto isso, Bolsonaro, acuado, reage com desespero. Isolado, sem apoio político ou internacional, tenta resistir de forma simbólica e seus gestos extremos demonstram a perda total de confiança nas instituições. O episódio da tornozeleira eletrônica, queimando como metáfora de um homem que já não acredita na própria justiça, simboliza a falência completa de um sistema em que o desespero substituiu a esperança.
Com todos os seus erros, e foram muitos, Bolsonaro enfrenta uma punição que ultrapassa o campo jurídico. Foi condenado por desafiar um sistema que não admite contestação. E o povo, mais uma vez, assiste, dividido e apático, enquanto o poder se consolida nas mãos de poucos.
O Brasil, hoje, é um país onde o medo fala mais alto que a justiça, onde o certo virou errado e o errado virou regra. Onde juízes viraram legisladores e a imprensa virou porta-voz do silêncio.
Ano que vem tem eleição, mas dificilmente virá mudança. O “ditador da toga” venceu mais uma batalha e nós, brasileiros, seguimos perdendo a guerra pela liberdade, pela verdade e pela dignidade.