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Leonardo Wollinger: de Biguaçu à Embraer

Engenheiro-chefe em eletrônica de potência, iniciou aos 13 anos ao lado do pai e hoje coordena projetos de aviação civil.

Entrevista

Biguaçu

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Jornais em Foco

Foto: Leonardo Wollinger, engenheiro-chefe da Embraer e mentor de jovens engenheiros; iniciou a carreira aos 13 anos ao lado do pai em Biguaçu e hoje coordena projetos de eletrônica de potência e sistemas críticos para aviação civil. (Foto Divulgação)

Leonardo Wollinger, 31 anos, transformou a curiosidade pelo “mexer” em eletrônica no laboratório de casa em uma carreira técnica de alto impacto: passou por startups, desenvolveu equipamentos médicos, trabalhou em radares de trânsito e hoje é engenheiro-chefe responsável por eletrônica de potência na Embraer. Em entrevista ao Enfoco Podcast #068, Leonardo contou, passo a passo, como a trajetória pessoal se cruzou com inovação, pesquisa e produção tecnológica que chegam aos céus — literalmente.

Trajetória — do laboratório caseiro ao setor de engenharia-chefe

Leonardo descreve o início de forma simples e direta: cresceu num ambiente em que a eletrônica era prática diária. O pai, Sílvio Wollinger, mantinha um laboratório e a loja Wollinger Telecomunicações; ali, segundo Leonardo, “o pai sempre com aquela paciência dele, me ensinando e eu gostava de aprender”. Aos 13 anos foi trabalhar oficialmente com o pai; foram dez anos de aprendizagem prática — “lavar peça, montar, aprender na marra” — até seguir para a universidade.

Entrou no curso de Engenharia Eletrônica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, após a graduação, ampliou a formação com especialização em Desenvolvimento de Produtos Eletrônicos e, posteriormente, o mestrado em Eletrônica de Potência no IFSC, que, nas palavras do próprio, “já está na reta final — falta um detalhezinho na gran finale”.

No caminho, acumularam-se experiências profissionais variadas: primeiro em projetos de topografia (Huggen), depois em uma startup de autosserviço de chope (MyTap), passando por radares de trânsito, trabalho em equipamentos médicos na Fundação de Inovação local e, por fim, incorporação a projetos e ao quadro da Embraer.

Projetos que marcaram (e o que ele fez em cada um)

  • Laboratório do pai (Vendaval / loja Wollinger) — Iniciação prática: limpeza de peças, montagem e pequenos reparos. “Foi ali que eu aprendi o gosto pela eletrônica”, disse.
  • Huggen Equipamentos Topográficos (Biguaçu) — Projeto de sistema de bateria com célula fotovoltaica para estender a autonomia de equipamentos de topografia em campo. Resultado: protótipo com maior tempo de operação para uso em locais sem energia.
  • MyTap (startup, Florianópolis) — Estágio e trabalho como engenheiro de hardware no desenvolvimento do primeiro sistema de autosserviço de chope do Brasil. Participou do desenvolvimento do equipamento eletrônico e do ecossistema (software + gestão). “A ideia veio de fora, mas a tecnologia foi 100% desenvolvida aqui”, afirmou. A empresa protegeu partes do projeto com patentes.
  • Radar de Trânsito — Atuação como desenvolvedor de hardware e produto, com interface entre eletrônica, firmware e mecânica, em soluções para fiscalização e gestão do trânsito.
  • Fundação (instituição de inovação / parceria com universidade) — Desenvolvimento para equipamentos médicos (eletrônica de potência em raio-X) e participação em projetos encomendados por empresas, além de colaborar em projetos para a Embraer, quando a divisão local ainda atuava junto à fundação.
  • Embraer (São José dos Campos / atuação também em Floripa) — Hoje Leonardo é engenheiro-chefe de eletrônica de potência: coordena, apoia e revisa projetos, define critérios técnicos e atua como referência técnica em sua área dentro de um setor horizontal que atende múltiplas linhas da empresa (comercial, executiva, militar, agrícola).

O que faz um engenheiro-chefe de eletrônica de potência — explicação e exemplos

Leonardo foi claro ao traduzir jargões técnicos para “língua do povo”: sistemas críticos são aqueles “sem os quais o avião não pode voar com segurança”. Ele exemplificou com atuadores de superfícies de comando (as “asinhas” das asas):

“Para cada superfície de comando você normalmente tem três atuadores. Cada um pode ter uma fonte de energia diferente — elétrico, pneumático, hidráulico — para garantir redundância.”

Ou seja, o trabalho de Leonardo envolve garantir que os componentes eletrônicos que alimentam ou controlam esses sistemas aguentem adversidades operacionais, tenham durabilidade compatível com a vida útil da aeronave e implementem redundâncias e tolerâncias a falhas. Ele reforça a visão integradora: “o avião é composto por centenas de milhares de peças — tratamos cada equipamento individualmente para que o todo funcione”.

Rotina, deslocamentos e conciliação com Biguaçu

Embora lotado em São José dos Campos, Leonardo mantém vínculo com Biguaçu e descreve uma rotina híbrida: períodos de trabalho presencial para reuniões e alinhamentos críticos e grande parte das atividades por teletrabalho. No mestrado, por exemplo, ele se deslocava a cada 15 dias para encontros presenciais. “No começo eu ia com frequência para São José dos Campos; hoje grande parte do trabalho é remoto, mas as reuniões presenciais acontecem”, relatou.

Visão sobre a Embraer e o mercado aeronáutico

Perguntado sobre a posição da Embraer no mundo, Leonardo pondera: a empresa nasceu ligada à Força Aérea e, após a privatização nos anos 1990, passou por um processo de transformação tecnológica (cita o programa CBA 123 e o ERJ-145 como marcos). Segundo ele, a Embraer é competitiva globalmente, especialmente em jatos executivos e na aviação regional. Sobre produção e filas de pedidos, apresentou um conhecimento prático: há listas de espera de clientes que compram vagas de produção — um fenômeno comum na indústria aeronáutica.

Conselhos e legado: o recado aos jovens

A trajetória pessoal vira orientação: “Comece pequeno, mas comece. Lá atrás, no laboratório do meu pai, eu não imaginava onde isso ia dar. Vale a pena estudar, se dedicar e acreditar no seu potencial.” Como mentor no Instituto Semear e instrutor no Programa de Especialização em Engenharia (PEE) em parceria com o ITA, ele atua justamente na formação de jovens engenheiros — uma devolução de experiência que ele considera essencial.

Linha do tempo (resumo cronológico)

  • Infância / adolescência — Cresce no ambiente técnico do pai; acompanha consertos e práticas do laboratório em casa.
  • 13 anos — Início do trabalho com o pai na loja Wollinger; tarefas práticas e experiência de campo.
  • ~13 a ~23 anos — Dez anos de trabalho prático com a família (loja/serviços).
  • Universidade (UFSC) — Cursa Engenharia Eletrônica; enfrenta a carga intensa do curso e concilia trabalho em demandas pontuais do pai.
  • 2018 — Conclusão da graduação em Engenharia Eletrônica.
  • Pós-graduação (IFSC) — Especialização em Desenvolvimento de Produtos Eletrônicos (≈2,5 anos).
  • Mestrado (IFSC) — Mestrado em Eletrônica de Potência (em fase final).
  • Estágios / Primeiros empregos — Huggen (sistemas de bateria com célula fotovoltaica); MyTap (hardware do autosserviço de chope; incubadora/startup); Radar de Trânsito (desenvolvimento de hardware/produto).
  • Fundação de Inovação (parceria universitária) — Equipamentos médicos (raio-X) e projetos para Embraer.
  • Embraer — Incorporação a projetos e, atualmente, atuação como engenheiro-chefe de eletrônica de potência (há cerca de dois anos no setor citado na entrevista).
  • Atuação paralela — Mentor no Instituto Semear; instrutor no PEE (parceria com ITA); membro da IEC (Comissão Eletrotécnica Internacional).

Clique aqui e veja a entrevista