Por Décio Baixo Alves
No próximo domingo o “JBFOCO” completará 30 anos.
Lembro, como se fosse hoje, da primeira distribuição do Jornal Biguaçu em Foco em 06 de agosto de 1993. No dia, com uma bicicleta de jornaleiro adquirida uma semana antes, percorri a maioria dos bairros urbanos pedalando e deixando os jornais nos balcões do comércio local. Na época, o jornal era mensal com 8 páginas apenas.
Já em sua segunda edição, conseguimos expandir as notícias colocando reportagens dos municípios co-irmãos de Biguaçu, Antônio Carlos e Governador Celso Ramos. Aí fizemos uma edição de 12 páginas e eu fui de ônibus (não dava pra ir de bicicleta) levar os jornais nesses dois municípios, deixando-os em órgãos públicos e nas empresas ao redor do centro da cidade.
Em “Ganchos”, a distribuição de ônibus foi engraçada: eu pedia para o motorista me aguardar um pouquinho para que eu saltasse, deixasse os jornais em algum balcão de um comércio local perto e retornasse ao ônibus fazendo esse “bate volta” em alguns pontos do município.
Depois, já no terceiro mês tivemos sorte: um empresário do Rio de Janeiro precisava de um telefone para sua recém aberta empresa em Biguaçu. Na época, não existia celular e telefone convencional custava o olho da cara. A minha mãe tinha dois e deu um deles para eu e meu irmão negociarmos com o carioca a troca da linha do telefone com um carro marca Scort, com bastante tempo de uso.
Depois disso ficou mais fácil: aposentei a bicicleta precocemente e o jornal cresceu bastante tanto no número de páginas, patrocinadores e reportagens porque conseguíamos nos deslocar mais visitando empresários e a comunidade para fazer as reportagens locais.
Pela manhã, o Ozias usava o carro pra escrever matérias e tirar fotos e a tarde eu usava o mesmo Scort para vender publicidades.
No começo, o meu quarto era o escritório do jornal. Depois de 6 meses usamos a garagem da casa. Depois de um ano, alugamos uma sala no centro de Biguaçu e depois só foi crescendo o espaço físico, assim com o numero de colaboradores que chegou a ser 35 entre vendedores, motoqueiros, jornalistas e diagramadores quando o jornal, em 18 anos, imprimiu suas edições diariamente. Apesar do crescimento, o local de trabalho sempre foi familiar conhecido pelo café servido pela dona Ivonilde, nossa mãe querida e professora aposentada, que hoje tem 79 anos e mora em Tijucas. Por muito tempo nossa mãe foi a revisora do jornal sendo a última a sair da redação.
No primeiro jornal, o meu saudoso irmão e editor Ozias Alves Júnior retrava como seria a “cara” do impresso: uma publicação sem papas na língua questionando o poder público em suas ações e priorizando as notícias locais.
Não tinha quem não lesse o jornal na comarca de Biguaçu na época mesmo aceitando ou não sua linha editorial.
Os maus políticos tinham aversão ao impresso que tornou-se o elo de comunicação entre a população e os governantes.
Muitos prêmios e reconhecimentos pela qualidade das reportagens de Ozias se tornaram uma constante na redação do jornal. O homem se especializou na história do município, sua colonização e divulgação, através inclusive de livros, de línguas faladas pelos antepassados da região.
Já se foram 30 anos e as coisas mudaram. Hoje, com o advento da internet, o papel praticamente não existe (hoje só circulamos de forma impressa as sextas-feiras) e o meio digital é o que predomina.
Nesse tempo, o hoje Jornais em Foco quebrou paradigmas circulando em 8 cidades da grande Florianópolis demonstrando que a notícia local é relevante e a primeira leitura de muitos que buscam se informar deixando para trás muitos grupos grandes de comunicação.
Passar pano quente em maus gestores e políticos corruptos não era o propósito do jornal que sempre combateu o mal uso do dinheiro público. Por causa disso foi processado e criticado pelos propineiros da ocasião mas nada disso abalou o profissionalismo dos fundadores que não se curvavam as pressões e sempre estamparam em suas páginas a realidade dos fatos doa a quem doer.
Foram muitos erros e acertos. Nesse período foram feitos legiões de amizades e também desafetos mas a certeza de noticiar com qualidade as cidades onde circulava ficou evidenciada com o grande número de assinantes e anunciantes. Fica aqui o agradecimento.
Hoje o jornal mantem o “IBOPE” alto e lançou recentemente o Emfoco Podcast que entrevista pessoas destaques da região.
Infelizmente o jornalista fundador não está mais entre nós, mas seu legado, que é a profissionalização da reportagem regional, ainda é o principal FOCO do jornais em Foco. Que venham mais 30 anos!