A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pediu e conseguiu a demissão de Fábio Wajngarten, assessor de imprensa do PL Nacional e um dos nomes mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A decisão foi motivada pelo vazamento de áudios comprometedores em que Wajngarten e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, ironizam uma possível candidatura de Michelle à Presidência da República em 2026.
Nos áudios, Cid comenta: “Prefiro o Lula”, ao que Wajngarten responde: “Idem”. Em outro trecho, os dois sugerem que Michelle teria fragilidades que a tornariam alvo fácil na política. As mensagens foram interceptadas pela Polícia Federal e divulgadas pela imprensa.
Michelle, que hoje preside o PL Mulher e vem sendo apontada como possível sucessora de Bolsonaro para disputar o Planalto, considerou as falas uma traição e solicitou ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, o desligamento imediato do assessor.
A demissão, no entanto, provocou desconforto dentro e fora do partido. Figuras influentes do bolsonarismo, como o pastor Silas Malafaia, classificaram a decisão como “covardia”. Para parte da base, o episódio revelou traços autoritários da ex-primeira-dama e incoerência com os valores cristãos que ela costuma pregar publicamente.
Críticos lembram que a política é feita de mudanças e reavaliações. O próprio Jair Bolsonaro, por exemplo, declarou voto em Ciro Gomes no primeiro turno das eleições presidenciais de 2002, atuando inclusive na campanha do então candidato pelo PPS. No segundo turno, com Ciro fora da disputa, Bolsonaro afirmou que votaria em Luiz Inácio Lula da Silva (PT), justificando que “jamais votaria no candidato do Fernando Henrique Cardoso”, numa crítica direta a José Serra (PSDB).
Esse histórico reforça um ponto essencial no debate atual: se Bolsonaro pôde mudar de posição política ao longo do tempo, por que punir alguém por uma opinião passada? Wajngarten, assim como muitos outros no meio político, pode ter revisto suas ideias e hoje apoiar Michelle Bolsonaro.
A atitude da ex-primeira-dama levanta ainda outro questionamento: onde está o perdão pregado pela fé cristã que ela tanto professa? A demissão de um aliado por críticas do passado contrasta com o discurso de amor ao próximo e reconciliação.
Enquanto Michelle se posiciona como potencial candidata à Presidência, episódios como esse colocam à prova sua capacidade de lidar com críticas, divergências e a complexidade do jogo político.