O comportamento da primeira-dama do Brasil, Rosângela Lula da Silva, a Janja, voltou a gerar forte repercussão nacional. Protagonista em agendas nacionais e internacionais, mesmo sem exercer cargo eletivo, a socióloga tem se destacado tanto por seu ativismo político quanto pelo volume de recursos públicos mobilizados em suas viagens — muitas delas sem a companhia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Diante da crescente pressão popular e institucional, o Judiciário entrou em cena. Após ação judicial movida por um vereador de Curitiba, a Justiça Federal determinou que o governo apresente, em até 20 dias, um relatório detalhado com os custos das viagens da primeira-dama. A decisão tem como base a falta de transparência e a percepção de que Janja age como uma autoridade monárquica, distante das dificuldades enfrentadas pela população brasileira.
Em discurso recente, Janja ironizou as críticas ao dizer: “Dane-se”. A frase ganhou ampla repercussão nas redes sociais e foi comparada à emblemática (embora historicamente questionada) declaração de Maria Antonieta, rainha da França, que teria dito “Que comam brioches” ao ser informada que o povo passava fome por falta de pão. A analogia é inevitável: ambas figuras públicas vivendo em bolhas de prestígio e luxo, distantes da realidade da população.
Os números dos gastos
Os valores envolvidos nas viagens da primeira-dama e de sua equipe são expressivos. Segundo dados oficiais, de 2023 até o início de 2025:
• O gabinete da primeira-dama custa cerca de R$ 2 milhões por ano.
• A equipe de Janja realizou 359 deslocamentos nacionais e internacionais, com custo total de R$ 791.542,23.
• As viagens pessoais de Janja somaram R$ 139.365,30 em despesas diretas.
• Somente a ida à Roma, em fevereiro de 2025, com uma comitiva de 12 pessoas, custou R$ 260 mil.
• Em Paris, a viagem para a cúpula da iniciativa Nutrition For Growth gerou R$ 18 mil em diárias.
• Já a participação nas Olimpíadas de Paris em 2024 rendeu um custo mínimo de R$ 203,6 mil.
Além do protagonismo de Janja, chama atenção o volume total de recursos gastos pelo governo Lula com viagens oficiais. De acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU) e apuração do colunista Cláudio Humberto, desde a posse em janeiro de 2023:
• O governo Lula já gastou mais de R$ 5 bilhões com viagens nacionais e internacionais.
• Em comparação, o governo de Jair Bolsonaro gastou R$ 4,15 bilhões com viagens durante seus quatro anos de mandato.
• Em 2023, o atual governo gastou R$ 2,27 bilhões com deslocamentos.
• Em 2024, foram mais R$ 2,3 bilhões, e apenas no início de 2025, já se gastaram R$ 79,5 milhões.
• Desse total, cerca de R$ 3 bilhões foram destinados ao pagamento de diárias de servidores e autoridades.
Esse salto nos gastos — que envolvem hospedagens, diárias, passagens, aluguel de veículos e comitivas numerosas — revela uma administração cada vez mais distante da austeridade, mesmo diante da realidade de um país que ainda enfrenta desigualdades sociais profundas.
A expectativa agora recai sobre a resposta do Palácio do Planalto à decisão judicial. Mais do que uma prestação de contas, cresce a pressão para que se estabeleça um limite ético e financeiro para a atuação pública de quem não foi eleita, mas gasta como uma chefe de Estado.