Mostrar mais resultados...
O amor pelos animais é o que move Luísa Siqueira Bastian, 38 anos, servidora pública e bacharel em Direito, que há quase dez anos lidera a ONG Adote um Focinho Biguaçu, referência na defesa da causa animal no município. Em entrevista ao Enfoco Podcast, apresentado por Décio Alves, Luísa abriu o coração ao relembrar a trajetória da entidade, as dificuldades enfrentadas e o papel transformador do voluntariado.
“Desde criança, eu sempre tive uma ligação muito forte com os bichos. Na minha casa sempre teve cachorro, gato, passarinho. Eu cresci cuidando deles. Acho que essa paixão é de família — minha mãe até chegou a cursar veterinária”, contou Luísa logo no início da entrevista.
O primeiro resgate: um gesto que mudou o rumo da vida
A relação de Luísa com a causa animal começou de forma espontânea, ainda na adolescência. “Eu tinha 17 anos quando parei o carro no meio da estrada pra salvar uma cachorrinha que quase foi atropelada. Levei pra casa, castrei, vacinei e cuidei dela. O nome dela era Paris, e ela ficou comigo por 16 anos”, lembrou emocionada.
O episódio, segundo ela, foi o ponto de partida para o que viria a ser sua missão de vida. “Naquele momento eu entendi que não dava mais pra ignorar. Depois da Paris, nunca mais parei. Sempre aparecia um bichinho precisando de ajuda, e eu simplesmente não conseguia dizer não.”
O nascimento da ONG Adote um Focinho Biguaçu
A história da ONG teve início oficial em 2015, durante uma gincana comunitária realizada em Biguaçu. “Apareceram dois filhotinhos abandonados no galpão da gincana. Eu pedi autorização pra cuidar deles e, quando vi, já tinha mais quatro. Assim começou a Adote um Focinho”, recordou, rindo.
Com o apoio de amigas e da comunidade, Luísa passou a organizar feiras de adoção e campanhas para arrecadar ração e custear castrações. “No começo era tudo improvisado, a gente fazia vaquinha, pedia ajuda, e as pessoas foram acreditando. Lembro que nossa primeira feira grande foi no estacionamento do Brasil Atacadista, que foi parceiro desde o início.”
O nome “Adote um Focinho Biguaçu” surgiu nesse período, e com ele veio o reconhecimento. “A gente começou a ser conhecida. As pessoas começaram a procurar a ONG quando viam um animal abandonado. E foi aí que o trabalho começou a crescer muito rápido.”
De improviso à estrutura: a luta por um abrigo fixo
Por quase nove anos, a ONG sobreviveu com recursos próprios e doações, sem sede própria. “Durante muito tempo, os animais ficaram espalhados: alguns comigo, outros em lares temporários, outros em clínicas. Era uma correria imensa”, relatou.
Em 2024, a entidade enfrentou uma crise quando precisou deixar o imóvel alugado onde mantinha parte dos animais. “O dono pediu o espaço de volta, e a gente ficou desesperada. Eram mais de 30 cães e gatos sem lugar pra ir. Foi quando o prefeito Salmir Silva e o vereador João Luiz se sensibilizaram e conseguiram intermediar a doação de um terreno municipal pra gente”, explicou.
Hoje, a ONG está construindo sua nova sede em Biguaçu, fruto de muita mobilização e doações da comunidade. “A gente já conseguiu levantar muros, fazer algumas baias e um espaço de abrigo pra 13 cães. Mas ainda tem muito pela frente. Falta o gatil, o alambrado, o piso… tudo depende da ajuda das pessoas”, disse.
Rotina de voluntariado: amor, renúncia e esperança
A Adote um Focinho Biguaçu funciona 100% com trabalho voluntário. Atualmente, são seis mulheres que se revezam nas tarefas diárias — desde alimentar os animais e levá-los ao veterinário até organizar feiras, campanhas e rifas beneficentes.
“Somos todas voluntárias. Ninguém ganha nada. É cansativo, mas é recompensador. O celular toca o dia todo, pedindo ajuda pra resgatar, pra castrar, pra doar. É um trabalho que exige força emocional e muito amor”, disse Luísa.
Além dos cuidados diretos com os animais, a ONG atua fortemente na educação e conscientização sobre guarda responsável. “Muita gente ainda não entende que adotar é um compromisso. O animal sente, sofre, e merece respeito. A gente tenta ensinar isso em cada feira, em cada conversa, em cada post.”
Abandono e castração: desafios de uma causa coletiva
Durante a entrevista, Luísa destacou que o maior problema da causa animal em Biguaçu ainda é o abandono, aliado à falta de castração em larga escala. “A cada ninhada abandonada, a gente vê o quanto o problema é cíclico. Castrar é o único caminho pra mudar isso. É uma questão de saúde pública.”
Ela também criticou a impunidade dos maus-tratos. “A gente vê casos absurdos: bichos jogados no lixo, queimados, atropelados e deixados pra morrer. A lei existe, mas a punição raramente acontece. É preciso aplicar de fato o que já está previsto.”
Segundo Luísa, o poder público tem avançado, mas o apoio ainda é insuficiente. “A gente reconhece o esforço da prefeitura, que ajudou com o terreno, mas ainda falta uma política de castração constante, não só mutirões esporádicos. É preciso ter continuidade.”
Um apelo à comunidade de Biguaçu
Ao encerrar o episódio, Luísa fez um apelo emocionante à população. “A gente precisa de voluntários, de doações e de adoções responsáveis. Cada ajuda conta, cada compartilhamento faz diferença. O trabalho é grande, mas o amor é maior.”
Ela também incentivou a adoção de animais adultos. “Os filhotes sempre são os primeiros a sair, mas os adultos são os que mais precisam. Eles só querem uma segunda chance. Adotar um adulto é um gesto de puro amor.”
A ONG mantém perfis nas redes sociais com atualizações sobre resgates, feiras e campanhas de arrecadação. “A gente faz o que o coração manda. Não é fácil, mas é isso que dá sentido à vida”, finalizou.