Estado: Podcast aborda reconstrução da masculinidade dos homens pretos

No segundo episódio da temporada, Rafael Santos narra busca por referências de masculinidades e paternidades na cultura africana.

Esta temporada se propôs a contar a história de homens que têm se reunido com outros pais para conversar sobre vulnerabilidades, medos, e formas de assumir protagonismo na organização dos cuidados domésticos. (Foto: Divulgação)

Está no ar o segundo episódio de Paternidades Plurais, a quarta temporada do podcast Narrando Utopias. O produtor de conteúdo e pesquisador de história e cultura africana, Rafael Santos, 35 anos, fala sobre a necessidade de reconstruir a própria masculinidade enquanto homem preto para exercer a paternidade amorosa que almejava para as três filhas.

Santos buscou referências na ancestralidade africana, especialmente nas culturas matriarcais, para  romper com padrões que não gostaria de repetir – nos quais homens pretos não podem ser vulneráveis ou demonstrar emoções, por exemplo – e construir uma masculinidade baseada em valores como ética, disciplina e espiritualidade, norteados pelo senso comunitário.

O pesquisador conta que ouvir a companheira, Mariana Dias, e se abrir para o diálogo com ela foi fundamental para que isso fosse possível. Ele ainda destaca que as discussões sobre paternidade passam, justamente, pela escuta do que as mulheres têm a dizer e que é preciso ter uma perspectiva de "caminhar junto" para construir relações baseadas no companheirismo e na coletividade, assim como fazem as culturas africanas que o influenciam.

Santos e a esposa, inclusive, criaram uma conta nas redes sociais chamada Sankofamilly para compartilhar suas experiências enquanto família afrocentrada, onde falam sobre educação das filhas Ana Helena, de 9 anos, Aretha, de 5, e Amara, de 3. Eles abordam temas como maternidade, paternidade e masculinidades, levando em conta os recortes de raça, gênero, classe e território que os atravessam.

 

"Um pai preto que se permite sentir" traz ainda a explicação de Humberto Baltar, especialista em masculinidades e paternidades, especialmente paternidade preta, sobre o significado do conceito de Sankofa, adinkra  que nomeia a página de Rafael Santos e que também está presente na identidade visual desta temporada. O pássaro olhando para trás compõe o conjunto de símbolos do povo africano Ashanti que guarda ideias e filosofias e ensina sobre a possibilidade de voltar atrás, às próprias raízes, para buscar conhecimento e aprender a viver o presente e desenhar o futuro.

Já o quadro "Meninos fora da Caixa" aborda a necessidade de trabalhar a aceitação e o conforto dos meninos com o próprio corpo. A demanda foi identificada na pesquisa "Meninos: Sonhando os homens do futuro", um projeto de âmbito internacional desenvolvido pelo Instituto PDH, com foco na escuta de meninos de 13 a 17 anos, com diferentes perfis. A cada episódio o quadro traz um dos grandes achados da fase qualitativa do levantamento.

"Eu estou me dedicando a formar na cabeça de todo mundo que tem contato comigo uma nova visão a respeito do homem preto. Que o homem preto também cuida, que o homem preto sente, que o homem preto é humano e que homem preto não individualiza suas ações, que ele entende que suas ações são comunitárias e para o seu povo, então o meu foco é essa masculinidade", afirma Rafael Santos.

Nesta quarta temporada, o objetivo do Narrando Utopias continua o mesmo: esperançar. Unir-se com outras pessoas para ajudar a construir no presente o futuro ético e justo que sonhamos para todas, todes e todos. Desta vez, ouvindo homens que compreendem o potencial que a paternidade possui de fazer a diferença no mundo.

Homens que têm se reunido com outros pais para conversar sobre vulnerabilidades, medos, e formas de assumir protagonismo na organização dos cuidados domésticos, de colaborarem com suas companheiras e de educarem melhor as crianças. Pontos fundamentais para contribuir com a diminuição da sobrecarga de trabalho das mulheres.

A nova temporada faz parte do projeto Narremos a Utopia, uma iniciativa do Inspiratorio.org para imaginar futuros feministas, interseccionais e inspiradores.


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