Coluna Miguel Simão: Saul Arcelau da Silva

Saul Arcelau da Silva

Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador

Você conhece o Saul, neto da Benvinda?

As águas cristalinas da praia do Cabral (Canto dos Ganchos), e a tranquilidade que o lugar sempre ofereceu, foi destaque na vida de Saul Arcelau da Silva, nos seus belos e inesquecíveis dias de infância.

O dia mal começava a abrir sua luz, e a passarinhada de diversas cores e cantos batiam asas pelas árvores que rodeavam a casa do carpinteiro Arcelau.

Pela fresta, o pequeno Saul espiava, e quando dava na sorte de sair sem ser visto, pegava a arapuca e corria mato a dentro, em companhia dos irmãos.

Tinha que sair cedo para caçar passarinhos, antes que os pais vissem.

Maria, quando sentia a falta de um deles, já saia gritando pelos arredores da casa, afinal, eles tinham que pegar a lenha para abastecer o fogão, e os arredores da casa para limpar.

A década dos anos de 1940, não era fácil para o casal Arcelau e Maria, que tinham uma carrada de filhos, e nem sempre, ele conseguia vender suas bem-feitas canoas dos troncos de garapuvu.

Arcelau, era filho do seu Eleutério Antonio da Silva, e de dona Amélia Maria de Azevedo. Nascido e criado no Calheiros, desde cedo aprendeu a lidar com a carpintaria e se dedicou a fazer canoas, e lá vez ou outra, fazia caixão de defuntos.

Andava perambulando por aí nos finais de semanas, mas gostava mesmo de fazer parada, era em Canto dos Ganchos.

E foi nessas paradas, que conheceu a Maria da Benvinda, moça solteira, toda ajeitada, que logo cegou os olhos do sortudo.

Conversa vai e conversa vem, pouco tempo, já tinha ele juntado as trouxas com a filha do Modesto e da Benvinda.

Casamento de pobre, mas não faltava amor e parceria, e aí foram aparecendo os filhos, ao todo 10.

Do Calheiros, arrumaram morada na praia do Cabral, lugar meio deserto na época, vizinhos mais distantes, mas era ali que o jovem casal iniciava sua história de vida.

Os dias se passavam e Arcelau, não perdia tempo na lida. Ao entardecer pegava uma tarrafa e com um balde saia em busca de peixes. Na tarrafa, ele descansada a mente e não sentia o tempo passar.

Ao amanhecer, de mais um dia, em assobios, ensaiava algumas cantigas para se distrair, enquanto na mão, a velha enxó roncava sobre o tronco da árvore estendido sobre duas pedras. Ao passo que ia cavando a madeira ia dando vida a uma canoa, que haveria de sair dali da praia do Cabral para qualquer parte desse estado. Arcelau era um pobre carpinteiro, mas sua qualidade de bom artesão na arte de fazer canoas varava quilômetros.

Saul, um dos filhos de Arcelau, estava sempre por perto olhando o pai esculpir na madeira com a enxó. Menino levado, saltitante, vivia feliz no lugar onde morava.

Nascido em 11 de junho de 1942, Saul guarda fortes recordações de seus tempos de infância e adolescência. Um dos episódios marcantes na sua vida, foi aos seis anos de idade, quando o pai foi incumbido de ir para Garopaba construir duas canoas, na Praia do Ouvidor. Contratado pelo senhor Anastácio Silveira, Arcelau levou a família para Garopaba para morar uns tempos enquanto fazia as canoas. Nessa mudança, Saul que estava com a família num carro de bois, caiu, e só foi sentido sua falta por mais de 3 km. O saragaço foi grande. Maria se escabelou, gritando pelo filho, e Arcelau tremia as pernas só em pensar no pior. Mas o pequeno Saul foi pego sem ferimento algum.

Tempos depois, retornaram a Canto dos Ganchos, e Saul passou a frequentar a escola, sendo sua professora dona Dalma Luz de Azevedo, de quem guarda boas recordações.

Aos 10 anos de idade, foi morar na Coloninha (Florianópolis), e com a vida difícil, logo aprendeu o ofício de engraxate, trabalhando na Praça XV, em Florianópolis.

O menino da praia do Cabral, foi crescendo e se virando, buscando ser alguém na vida, chegando a fazer o Ensino Médio. No ano de 1957 trabalhou na Farmácia Catarinense, e em 1964 ingressou na Polícia Militar de Santa Catarina, profissão que abraçou, e que teve orgulho de poder servir a sociedade catarinense.

Esforçado, 3 anos depois, já estava se formando Sargento, onde foi transferido para a cidade de Palmitos, a 723 Km de Florianópolis, mas sua boa vontade, sua integridade, suas boas maneiras, mostraram que um homem de caráter vence pela força de vontade. E isso fez que seus superiores notassem o bom profissional que ali estava, passando a ele o comando do destacamento.

Palmitos, foi a terra que fez Saul vencer obstáculos e crescer na profissão, mas foi também a terra onde encontrou seu amor, Julita Schell com quem teve 4 filhos: Alexsander, Santina, Samira e Samara.

Algum tempo depois, foi transferido para Porto União, onde algum tempo depois foi reformado por perder uma visão.

Mesmo reformado, foi contratado para ser Delegado na cidade de Luiz Alves, indo mais tarde para Florianópolis, encerrando sua carreira como segurança em empresas privadas.

Homem de bem com a vida, gosta de viver rodeados de amigos, de uma seresta e de uma cozinha onde faz os familiares e amigos saborearem boas comidas.

Saul Arcelau da Silva, é um gancheiro que não esconde sua origem e ama a terra em que nasceu.

Em 2019 foi homenageado com o Troféu Zé Gancheiro pelo Instituto ARTECULLI.


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