Coluna Miguel Simão: Osny Veríssimo – Um manguito do Jordão.

Texto: Professor Miguel João Simão.

Escritor e Pesquisador.

O termo manguito está associado as terras próximas ao Inferninho e se estendem até as Areias (de Cima e do Meio), por serem considerados espaços de manguezais. Dessa forma todo nativo de Jordão e de Areias eram chamados de “manguitos” pelos gancheiros.

O termo, era usado para diferenciar uma região da outra, embora no mesmo município, ou no mesmo Distrito de Ganchos (de 1914 a 1963).

Alguns recebiam o “apelido” como um elogio, outros como ofensas, mesmo assim, como falava Ciriaco Gancheiro, “depois do apelido colar, nem São Pedro consegue tirar”.

Mesmo assim, o carinho e o respeito por ambas as comunidades sempre existiram, sendo que o prédio da primeira Igreja Presbiteriana está sentado no Jordão desde 1907, e frequentada por gancheiros, assim como vários casamentos entre gancheiros e manguitos acontecem.

Osny Veríssimo, fala que levava na brincadeira e nunca se aborreceu com gentílico que os gancheiros lhe deram, já que a região era de mangue mesmo.

Nascido no Jordão em 28 de junho de 1930, Osny é filho de Anselmo Veríssimo (1892 – 1930) e de Noemia Luiza Xavier (falecida em 1966).

A vida de Osny, é marcada por lutas e muito trabalho. Aos 3 meses de idade o pai faleceu, e sua mãe, ficou com 6 filhos pequenos, sendo Osny o mais novo da família, seguido pelos mais velhos: Belmira (falecida,) Maria (popularmente conhecida por dona Bola), residente em Areias de Baixo, hoje com 94 anos, Geni (falecida), Fermino (falecido) e Elias (falecido).

A falta de opção para trabalhar e ter rendas, fazia as mulheres da época ter novos relacionamentos (casamento), após ficarem viúvas, como meio de sobrevivência. E nesse contexto de miséria e ausência de rendas, Noemia casou com Sebastião Rosa Gonçalves, um cidadão de Areias de Cima.

Dessa união, Noemia teve mais 4 filhos: Adelino (falecido), Isaura (falecida) Aristides e Valdir (falecido).

A vida era dura para as famílias que dependiam das terras dos outros para plantar e dos engenhos de terceiros para fabricação da própria farinha.

Noemia saiu a luta, e junto os filhos que foram crescendo começaram a sobreviver meio a vida pobre que levavam.

O menino Osny, desde os 8 anos de idade já trabalhava, junto com os irmãos saia de Jordão a pé e vinham até Canto dos Ganchos em busca de peixes. Mas era nas roças de Antonio Mafra, Augustinho mafra e Pedro dos Passos Veríssimo que ele garantia seu salariozinho mensal, que embora pequeno, ajudava nas despesas da casa, e até guardava uns trocados.

O menino que aprendeu a lutar desde os 8 anos de idade, não reclama da vida que levou, pois embora com muita luta, trouxe ensinamentos para a vida.

Foram 16 anos plantando nas roças dos patrões que ele adquiriu um pedacinho de terras para ter seu próprio negócio.

Daí, nasce o amor por Judite da Costa Veríssimo, filha de Joel Costa e de dona Virginia

E foi numa noite fria de inverno que Osny roubou a noiva, carregando para a casa de parentes. A fuga com a noiva surpreendeu os manguitos do Jordão, pois Osny sabia bem disfarçar, e falava que casamento seria só quando ele tivesse seus 30 anos.

Um ano depois de casado, já com um dinheirinho guardado, construiu sua casinha com madeira tirada do morro.

Foram dias de muito trabalho. Osny, saia cedo, tomava um aparadinho, pegava sua sacola de pano que ganhou de presente da mãe, após colocar uns pedaços de aipim cozido, batata doce e uns pedaços de cuscuz, ele ganhava o morro. Entre uma machadada e outra, a derrubada de uma árvore, era uma festa, para o homem que sonhava em construir seu ninho. Feito João de Barro, carregava os paus de um a um, formando um monte na serraria de Pedro Henrique da Silva, dono do engenho de serra do Jordão. Lá, a madeira era beneficiada e Osny, contava tábua por tábua, querendo ver inteirar logo as madeiras que precisava para levantar a casinha dos seus sonhos.

Aos 91 anos diz: “Sou feliz Miguel, tudo que começa termina, e a gente passa para novas histórias. Então esse trabalho todo para fazer a minha casa, para abrigar a minha companheira também não ia durar pra sempre”.

E no ano de 1955, a casa de Osny ficou pronta, já não mais dependia de aluguel e nem de favores dos outros.

Em 1962, passou a trabalhar no estado (DNR) Departamento de Estradas e Rodagem, junto com Osvaldo Elias, Ivo Pereira, Antonio Simão, Osvaldo Carvalho, tendo como encarregado José Hipólito de Azevedo, emprego que durou mais de 30 anos, e só saiu quando se aposentou.

Sua rotina começava as seis horas da manhã e se estendia até as 18 horas, quando chegava em casa. Percorria os trechos de estrada de Governador Celso Ramos, entre Areias de Cima até Palmas e de Areias 

de Baixo até Armação da Piedade, além de trabalhar em regiões como no interior de Biguaçu.

Com a enxada na mão ajudava na melhoria das estradas e a rotina era divertida, segundo ele, com as histórias de Zé Hipólito (Seu José) como ele fala.

Mas ao chegar em casa no fim da tarde e ver a família toda esperando não tinha preço que pagava, acrescenta ele.

Osny e Judite tiveram 11 filhos: Alice, Joel, Julia, Jacó, Paulo, Edir (faleceu), Jessé, Osny Filho, Edite, Baselides e Abrão.

No ano de 2017, Osny perde a esposa Judite, falecida em 17 de maio.

Hoje, Osny caminha pelas ruas de Ganchos do Meio todas as manhãs, conversando com um e outro amigo. Com muita lucidez, não esquece datas e nem nomes e conta causos e histórias do seu tempo.

Vivendo com a senhora Alzeri, reside no Canal da Olaria, na Sede do município gancheiro.


 


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