Coluna Miguel Simão: Dona Vanda do seu Alvim

Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador

Batizada com o nome de Ivone Amorim da Silva, nasceu em 01 de outubro de 1941, na cidade de Lages.

Quando Vanda, tinha 10 anos de idade, os pais, Argentino Honorato de Amorim, natural de Camboriú, e dona Albertina Alves de Amorim, natural de Lages, decidem morar em Camboriú com toda família.

Argentino, era lavrador e tinha granja, e esse trabalho envolvia toda a família, pois a lida era grande.

Vanda, se dedicava dia a e noite na lida da roça, e aos domingos, ia ao culto na igreja Presbiteriana, igreja que a família congregava.

E foi na igreja, num banco da fila do lado, que alguém olhava atentamente a jovem de 19 anos.

Era Alvim, um pretendente, que ficara apaixonada pela menina do Argentino. Alvim era 10 anos mais velho do que ela, motivo pelo qual ela não dava conversa, pois não sabia se ele tinha compromisso com outra pessoa, ou não.

Um dia, ao terminar o culto, ela com a Bíblia na mão, já se dirigindo a porta, é abordada pelo homem, que lhe diz que ela haveria de casar com ele.

Ela, baixou a cabeça, e de boca pequena diz: - “é muito pra ti”.

Cada final de semana que via o homem, ela procurava se distanciar dele, mas ele sempre dava um jeitinho de chegar perto.

Ele, aos poucos foi se chegando, convencendo ela, e o final foi de novela, felizes até o final da vida dele.

A trajetória de vida deles foi de luta. Alvim era pedreiro/ carpinteiro e não enjeitava trabalho.

Um dia, bem no início do casamento, quando já tinham a primeira filha, o empreiteiro Teonílio Pereira, de Camboriú, procurou Alvim para construir o Templo Presbiteriano de Canto dos Ganchos, que seria construído onde construíram a Pegan (Pescados Ganchos).

A obra não saiu do papel, pois os membros da igreja decidiram construir em outro local.

Porém, Alvim, já de início é contratado para construir a casa do Professor Belarmino Azevedo, e assim começa a escrever novas 

páginas no seu livro da vida, um recomeço numa comunidade pesqueira, onde não conhecia ninguém.

Dessa forma, Vanda e Alvim, vieram definitivamente residir em Canto dos Ganchos, no início dos anos de 1960.

O primeiro dia que Vanda pisou nas terras de Ganchos, foi assustador, pois, com as precárias condições das estradas, o ônibus não subia o morro, e os passageiros tinham que descer na Fazenda do Fhilipe, antiga propriedade de Francisco Wollinger, e caminharem até chegarem as suas casas.

Foi um dia de chuvas, e Vanda com a pequena Nina no colo, vinha caminhando entre a lama que cobria a estrada, e isso dificultava acelerar os passos. De repente uma mão amiga, oferece para levar a criança. Era Nilton Eusébio Alves, jovem, filho de Lica e de Eusébio, que para não deixar a criança pegar chuva acelerou os passos e veio na frente de todos. Nilton era jovem e forte, o que facilitava sua rapidez.

Isso deixou Vanda preocupada, pois ela nunca viu nenhuma das pessoas que caminhava ao lado dela. Mas Lica, mãe de Nilton, a consolou, dizendo: “Fica calma, ele é meu filho, e vai deixar a criança na casa da Dodora, uma mulher muito boa”.

Enquanto os outros aceleravam os passos, Vanda acelerava o coração, pois não sabia quem era Dodora e nem onde morava.

A distância percorrida parecia não mais terminar, pois a ansiedade tomava conta de Vanda.

Mas tudo terminou bem, pois chegaram no centrinho do Bairro, e Vanda, pode pegar no colo sua pequena Nina.

Algumas pessoas dizem que as coisas não acontecem por acaso, e essa chegada de Vanda, na casa de Deodora Simas Custódia, a enfermeira da localidade, popularmente conhecida por Dodora, foi de uma recepção tão calorosa, que até hoje Vanda lembra com emoção.

Dali, nasceu uma grande amizade, Vanda diz, que em Canto dos Ganchos, ganhou outra mãe de presente de Deus, a dona Dodora.

Dodora, tinha dessas coisas, viveu para dividir o que tinha, e somar as amizades, não foi em vão que era chamada por muitos de mãe da pobreza dos Ganchos.

Alvim, alugou uma casinha que pertenceu a família de Teonílio dos Santos, local onde atualmente pertence à família de Lauro Gabriel da Silva. Essa antiga casa, demolida nos anos de 1970, que deu espaço a um depósito da empresa de pescados PEGAN, foi também um 

açougue, onde trabalhava o senhor Guilherme Silva, conhecido por Guilherme da Bia.

Depois, o casal e os filhos, passaram a morar numa casinha de propriedade de Deodora Simas Custódio, e assim, iam vivendo de aluguel, que somaram quase uma dúzia de casas que residiram, até Alvim, construir sua própria casa.

Vanda, diz ser uma mulher realizada, mãe de 6 filhos, e entre netos e bisnetos, soma mais de 50, e isso lhe dá a alegria do dever cumprido.

Passou por muitas dificuldades, principalmente quando o esposo teve problemas cardíacos e daí desencadeou uma série de problemas de saúde, vindo a falecer em 1990, época em que estava construindo sua própria casa, que foi terminada pelos filhos. Nessa época viu a mobilização da comunidade em que escolheram para viver.

Mulher de luta, marcada pelas dificuldades, mas vencida por uma fé inabalável.

E nesses 81 anos de vida, colhe os frutos da alegria de quem tem muito a ensinar, pois registra a cada dia páginas que ficarão marcadas nos anais da história da família Silva.

 


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