Candidato à prefeitura de Florianópolis pelo PP, Pedro Silvestre, o Pedrão, defende a criação de uma força-tarefa com diversos órgãos públicos para tratar os moradores em situação de rua. Em entrevista à Gazeta do Povo, afirmou que dependentes químicos serão encaminhados para comunidades terapêuticas, enquanto pessoas com doenças psiquiátricas serão levadas a clínicas, e criminosos “vão ter o tratamento da Guarda Municipal e da Polícia Militar”.
“As pessoas em situação de rua também não terão mais hotel pago pela prefeitura. Isso é um compromisso nosso. Hoje a prefeitura gasta dinheiro dos nossos impostos para pagar o hotel ao invés de pagar clínica para as pessoas se internarem”, disse Pedrão.
Nesta entrevista à Gazeta do Povo, o candidato do PP falou, ainda, sobre ampliar a transparência da prefeitura, apostando em dados abertos. Defendeu a necessidade de buscar investimentos privados para qualificar o turismo e ofertar, na cidade, oceanário, roda-gigante e parques temáticos. Pedrão também propõe firmar parcerias com a iniciativa privada para contratar exames para o SUS e médicos especialistas.
Todos os candidatos à prefeitura de Florianópolis foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para a entrevista.
Florianópolis teve caso de suspeita de corrupção na prefeitura, inclusive com um secretário preso. A situação traz à tona a necessidade de medidas de combate à corrupção, que passam pela transparência de informações de contratos, licitações, investimentos, uso de recursos pela prefeitura. Que medidas práticas o senhor pretende adotar para aumentar a transparência da prefeitura e coibir casos de corrupção, se eleito?
Então, Florianópolis tem 18 secretarias municipais e em seis foram descobertas envolvimento com corrupção. Isso significa que um terço do governo já foi descoberto com suspeitas de corrupção. Os outros dois terços estão sob interrogação, a população não sabe se são secretarias que estão fazendo uma gestão honesta ou corrupta, precisa de investigação. Mas são as secretarias que têm os maiores orçamentos, por exemplo Saúde e Educação. Então ali precisaria, com toda a certeza, de uma investigação urgente por parte de Tribunal de Contas, Ministério Público etc.
Da nossa parte, quando vereador, criei a política municipal de transparência e combate à corrupção, ela deve ser implantada na íntegra. Se tivesse sido implantada na íntegra desde 2020, Florianópolis, em 2022, seria a cidade mais transparente do Brasil. Esse era o plano. Então o nosso objetivo é transparência total, dados abertos e não vai ter nenhuma informação do município que seja obscura ou que fique de fato escondida. Todas as informações abertas e disponíveis no Portal da Transparência.
No seu plano de governo, o senhor cita a vocação turística de Florianópolis e diz que há a necessidade de potencializar essa característica. De que forma o senhor pretende fazer isso?
Parceria público-privada é o caminho para o turismo aqui em Florianópolis. A gente não tem parques temáticos, não tem equipamentos que tragam o turismo náutico para cá. Então a nossa linha principal é na busca por investimentos privados, para trazer equipamentos como Oceanário de Florianópolis, roda-gigante, parques temáticos. E aí já tem conversa com Beto Carrero, Hopi Hari e outros também de fora do país. Os píers e atracadouros para o transporte marítimo que são, por si só, um equipamento turístico.
E também a questão do turismo ecológico. Nós temos nove unidades de conservação municipais, muito visitadas e subutilizadas, então nossa intenção é parceirizar com os cursos do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) de turismo para fazer com que os jovens saiam empregados como guia de turismo. E também tem dentro dessas unidades, das trilhas guiadas, espaço para camping, restaurante, quiosque etc. Então é trazer para dentro das unidades de conservação um turismo sustentável.
Temos um ponto forte que é o turismo de base comunitária, ele acontece no Sertão do Ribeirão, Ratones e em algumas comunidades do Maciço. E nosso objetivo é fomentar esse turismo de base comunitária, para que possa virar referência, como acontece em outros lugares do Brasil. Turismo em comunidades acontece no Rio de Janeiro, no Bar da Laje, no Vidigal, por exemplo. E com turismo de base comunitária, nós conseguimos viajar até por Santa Catarina mesmo, para ter experiências gastronômicas, culturais e artísticas. (Bairro) Ratones tem um formato de pesca artesanal que por si só já é um turismo. E eu tive a oportunidade de fazer: você entra numa embarcação feita com uma árvore que é nativa de Florianópolis, pela própria pessoa, ela nos leva para pescar, nós pescamos, limpamos o peixe e aprendemos a fazer um prato típico da cidade. Então, isso é um turismo que encanta os olhos e é um turismo de experiência, né?
Nós temos também aqui a prerrogativa de ter o turismo esportivo e um turismo de negócios muito forte, para combater a sazonalidade do verão. Então nosso objetivo é fazer com que a Secretaria de Turismo no município seja protagonista, tenha um plano e esteja distante da corrupção, sendo administrada por pessoas que realmente estão preparadas para administrar o turismo da capital.
E como incentivar esse turismo fora de época, fora da temporada de verão?
É turismo de eventos. Florianópolis, por exemplo, não tem uma arena multiesportiva, os jogos acontecem em Joinville, Jaraguá, São José, mas não aqui. E é uma vergonha uma capital de estado não ter uma arena multiesportiva. O próprio Iron Man (prova de triatlo) que acontece está negociando para sair de Florianópolis. É um tipo de evento que não pode sair daqui.
Florianópolis se comporta como um galanteador barato, traz o turismo de verão prometendo muitas coisas, entrega não apenas praias bonitas, mas engarrafamento, águas poluídas, atendimento do comércio abaixo da qualidade
Pedrão, candidato do PP à prefeitura de Florianópolis
Nós temos que trazer shows o ano inteiro, entrar no eixo de shows dos artistas. Na parte de teatro, trazer para cá grandes espetáculos. E fomentar que os artistas, os atletas e os times os clubes daqui tenham a possibilidade de competirem e de se apresentarem nesses espaços grandiosos. Nós temos que criar a rota cultural de Florianópolis, resgatando eventos como a Maratona Cultural que trazia gente do Brasil inteiro, resgatar eventos como o antigo Planeta Atlântida que era uma parceria público-privada. E assim a gente vai trazer novos turistas e os mesmos turistas novamente.
Florianópolis hoje se comporta como um galanteador barato, traz o turismo de verão, prometendo muitas coisas, entrega não apenas praias bonitas, mas entrega engarrafamento, águas poluídas em boa parte das praias, um atendimento do comércio que está abaixo da qualidade que a gente pode entregar. Enfim, a nossa cidade ainda vai evoluir muito, mas da forma como está não pode mais se manter.
E para esse turismo de shows e eventos culturais, o senhor pretende construir alguma casa de espetáculos?
O mais interessante para o município não seria construir uma casa de shows, mas a gente utilizar os lugares que o município tem. Por exemplo, os estádios do Avaí e do Figueirense conseguem comportar grande público, e o município tem que estimular a vinda desses eventos para cá, parceirizar com os dois clubes para que também tenham receita. Hoje esses clubes têm dificuldades financeiras, o Figueirense em especial. E acontece esse formato (de shows em estádios) no Brasil inteiro, né?
Se nós pegarmos os estádios mais modernos, a arena do Palmeiras recebe shows de ordem mundial. E aqui pode ser similar a isso, os estádios já receberam shows, por exemplo, de Paul McCartney, Gusttavo Lima, Roberto Carlos. Então a gente tem essa expertise. Obviamente que vai necessitar da nossa participação enquanto prefeitura para trabalhar uma inteligência de trânsito, espaço para estacionamento, infraestrutura, como tratamento de esgoto para comportar esses eventos.
As queimadas em diversas partes do país trouxeram muita fumaça para Florianópolis, deixando a qualidade do ar na cidade insalubre na sexta-feira, 13 de setembro. O caso levantou o debate ambiental e necessidade de combater as mudanças climáticas, considerando que estamos em uma ilha e os impactos podem ser percebidos antes do que em outros locais. O que o senhor propõe para preservar o meio ambiente em Florianópolis?
Fazer o que a prefeitura já deveria ter feito. Assinou um protocolo e não cumpriu, que foi o primeiro deles, Florianópolis Lixo Zero. Esse protocolo está assinado pelo Gean Loureiro (ex-prefeito de Florianópolis que, no segundo mandato, teve como vice Topázio Neto, hoje prefeito que concorre à reeleição) e também teve uma digital do Topázio. Eles não fizeram absolutamente nada do que estava previsto nesse cronograma. Foi muito mais para inglês ver, foi muito mais marketing do que ação.
Esse é o primeiro ponto: trabalhar a questão do resíduo sólido em Florianópolis, mudar a lógica que Florianópolis trabalha os resíduos sólidos. O mundo inteiro ficou impactado com um navio cargueiro transatlântico desses repleto de lixo saindo da Europa e chegando na África e outro chegando no Brasil alguns anos atrás. Florianópolis faz isso todos os dias: ao invés de mandar lixo dentro de um navio para outro continente, manda dentro de uma carreta. São diversas carretas de 35 toneladas que saem do (bairro) Itacorubi e vai para o município vizinho de Biguaçu, sendo que boa parte desses resíduos são orgânicos, são recicláveis e pouca coisa é rejeito.
O município paga ainda um dos valores mais altos do Brasil para tratar - entre aspas esse tratar - o resíduo sólido. Florianópolis tem que parar de cometer crime ambiental quando se trata de resíduos sólidos. Esse é o primeiro ponto aqui no município. O segundo é tratar as unidades de conservação do nosso município com devido respeito. Nossas unidades de conservação têm planos de manejo que já eram para estar prontos e sendo operacionalizados. As unidades de conservação aqui do município cumprem um papel fundamental para a questão das mudanças climáticas.
E um terceiro ponto é trabalhar a arborização urbana, para reduzir a micro temperatura. Hoje Florianópolis não é a cidade mais arborizada do Brasil em área urbana, e a gente precisa mudar isso. Somado a tudo isso, chega numa proposta que é interessante - objeto de trabalho meu profissional, da minha empresa - que é a questão dos créditos de carbono, neutralização de carbono.
Florianópolis tem uma nova receita que é justamente a geração de créditos de carbono a partir da sua economia verde. E nós temos um plano para isso, seguindo os passos de São Paulo, Curitiba, mas com maior facilidade pelo fato do nosso tamanho ser menor. Então a gente consegue adotar políticas como substituição dos combustíveis dos carros da prefeitura por etanol, ao invés de diesel e gasolina, fazer a questão da iluminação através de energia limpa da cidade e dos prédios públicos, criar políticas de incentivo aos empreendedores para construírem de forma sustentável. Foi até um projeto meu como vereador.
Então tudo isso a gente consegue trabalhar e trazer resultado para nossa cidade. Caso nada seja feito, a gente vai continuar só reclamando dos problemas. A gente precisa mudar e colocar a nossa vocação em prática. Florianópolis já tem vocação, precisa só praticar o que já tem.