Coluna Miguel Simão: Abelardo Rodolfo Oliveira e Zélia Baldança Oliveira – Gente que venceu pela luta.

Texto: Professor Miguel João Simão
Escritor e Pesquisador.

A vida de Abelardo e Zélia, nem sempre foi recheada de alegrias e de momentos felizes, guardam em seus baús de histórias o registro de tempos difíceis que lutaram para sobreviver.
Abelardo nasceu em Canto dos Ganchos, e com 07 dias de vida, foi levado para morar na ilha do Arvoredo. Embora a fartura de peixes fosse muita, os poucos recursos financeiros fazia a família passar por necessidades pela falta de outros itens básicos para a casa.
Numa voz meio embaçada, tomada pela emoção, seu Abelardo conta que nem tudo eram flores.

Seu Abelardo diz: “Carne lá, só às vezes uma tirinha que o pessoal do farol dava pra nós. Para pegar farinha eu andava como daqui nas Palmas (média de 5 a 7 km), para pegar um pouco de farinha. Mas agora peixe, peixe tinha de fartura. Fome a gente não passava, mas era uma comida muito pesada e era uma miséra por falta de muita coisa”

Zélia conta com lágrimas: “Numa ocasião fui à casa de uma tia pedir um pouco de farinha para a família comer, e ela de forma grosseira atendeu e disse: (olha diz pra tua mãe que eu não to pra sustentar vocês). Isso eu lembro chorando, chorando”.
Mas do Arvoredo, ficaram boas lembranças dos tempos de criança e adolescência correndo pela ilha. Abelardo foi aluno da professora Inedina, uma professora severa que por qualquer motivo deixava os alunos de joelhos na escada do farol, mas aprendeu a ler e a escrever.
Abelardo era filho de Rodolfo Manoel de Oliveira e de Rosa Oliveira (falecidos), ambos nascidos em Armação da Piedade.
Rodolfo, saiu com a família de Canto dos Ganchos, onde residia no ano de 1932, e foi morar na ilha do Arvoredo em busca de trabalho.
Abelardo conta que quando tinha 18 anos, o irmão Lucas Rodolfo Oliveira veio buscá-lo para trabalhar na pesca industrial.
Ele relata que: “ Eu estava nas pedras pegando isca pra pescar, daí veio aquele barco. Deixei o samburá na rampa e fiquei olhando. Era o Lucas, no barco Nossa Senhora das Graças. Aí ele assim: (vim te buscar. Pega as tuas coisas e vamos) . Não pensei duas vezes, saí correndo e fui em casa pegar as coisas. Era triste não ter o que comer”.

Lucas Rodolfo de Oliveira, era irmão de Abelardo por parte de pai. Rodolfo quando casou com Rosa estava viúvo. Abelardo era o filho mais velho do casal Rosa e Rodolfo, numa família composta por 7 filhos.
Abelardo abraçou com vontade a profissão, e contra os maus tempos, rezava para aquela que levava o nome da embarcação, Nossa Senhora das Graças, pedindo a Deus sempre a proteção. Seu desejo era poder dar aos pais um lugar decente, uma morada digna para que eles pudessem viver os restos de suas vidas.
Sua luta foi grande, mas como bom filho, não se viu desamparado por Deus, pois tinha acima de tudo as melhores intenções, e uma delas, era ver os pais bem agasalhados.
Aos 20 anos, com algumas economias, comprou uma área de terra bastante extensa, onde hoje é a Rua Adolfo Alves. Adquirindo o pedaço de terra, em menos de um ano conseguiu fazer uma casinha para os pais. Era uma casa simples de estuque, mas foi o sonho que seu pai mais desejou realizar na vida.
Abelardo, sentia-se um moço realizado em poder dar esse presente tão sonhado aos pais.
No ano seguinte, a casa de estuque transformou-se numa casa de madeira feita pelo carpinteiro Pedro Honorato, o Pedrinho da Diquinha.
A casa era maior, com três quartos, uma sala, e como cozinha, aproveitaram 

parte da casa de estuque.
No ano seguinte, Abelardo começou a namorar a jovem Zélia.
Zélia, também nativa de Canto dos Ganchos, era filha de Artur Guilherme Baldança e de Luiza Peixoto Baldança.
Nascida em 23 de fevereiro de 1936, conheceu Abelardo no mesmo bairro.
Pescador de barco de camarões fazia a entrega do pescado no porto de Itajaí e estava quinzenalmente em casa.
E foi numa dessas passagens em casa, que eles se encontraram e namoraram.
Casaram no ano de 1954 e foram morar na casa dos pais de Abelardo.
Abelardo continuou trabalhando de tripulante nos barcos, procurou sempre manter sua boa conduta e economizar o máximo para construir uma nova casa para viver com a esposa.
O casal teve 4 filhos: Zelandia, Zildete, Zaine e Adelardo.
Quando o caçula estava com 8 meses, Abelardo consegue sua carta de mestre, no ano de 1967, o que fez a vida melhorar bastante.
Zélia, ainda criveira, se aposentou pelos serviços prestados nas salgas e na prefeitura municipal, onde assumiu em 1988 a função de merendeira na Escola Eudes Mafra em Areias de Cima.
Sua vida foi dedicada à igreja onde foi Catequista, nas salgas, trabalhando na limpeza e conservação do pescado, e no trabalho de confecção do crivo. Esta última atividade (criveira) aprendeu com a mãe, Luiz Peixoto Baldança. A bisavó de Zélia, Luiza Flausina de Azevedo foi a pioneira no crivo na região de Ganchos, e além de passar para as moradoras local, a filha Margarida (avó de Zélia) fazia crivos para ajudar nas despesas da casa.
Em virtude de problemas de saúde, Abelardo Rodolfo Oliveira, faleceu no dia 08 de fevereiro de 2021.

A esposa Zélia, reside na mesma residência do casal.

 


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