Coluna do Décio: Os desafios de Salmir Silva

Assim como articulou a maior vitória eleitoral já vista em Biguaçu, prefeito tem que ser sábio em montar próximo governo

Foto: Salmir tem que priorizar um governo técnico para não perder apoio (Foto Divulgação)

Salmir Silva (MDB) deu um banho nessas eleições. Venceu com quase 17 mil votos de diferença o ex-prefeito por dois mandatos e o “candidato do povo” Tuta (PSD) e ainda formou uma base aliada na câmara municipal sem oposição. Dos 15 vereadores eleitos 13 são aliados de Silva. Nunca na história política de Biguaçu houve uma vitória com tanta diferença de votos e com inúmeros aliados eleitos na câmara municipal. Só para se ter ideia, quando Castelo se reelegeu em 2012 no auge de sua popularidade, os vereadores que o apoiavam somavam 10.

 

Histórico na política

 

Salmir teve muita sorte na política local. Não que ele não seja competente, é e é muito, mas o homem tem sorte sim. Elegeu-se vereador em 2016 com 679 votos, sendo último colocado na época. Muito desconhecido na cidade, referiam-se a ele como “aquele empresário da loja de parafuso”. Teve o apoio maciço do então vereador André Clementino (MDB), que não concorreu a reeleição para disputar o pleito como vice na chapa de Tuta. A ajuda de André foi fundamental para a vitória apertada de Salmir nessas eleições de 2016 a vereador. Foi na rapa do tacho.

Dentro da câmara municipal fez um trabalho feijão com arroz mas conseguiu destaque em relação aos seus pares. Com formação universitária, experiência em chão de fábrica, empresário e vendedor, não foi difícil para Salmir ter o respeito dos outros vereadores. Tanto é que elegeu-se presidente da câmara em 2018 já mostrando capacidade de articulação mas acabou tendo uma desavença com a vereadora Magali Prazeres na época. Lá fez um trabalho com mais visibilidade e o jeito tranquilo de lidar com situações avessas o credenciou mais tarde a pretender voos maiores como se candidatar a prefeito da cidade mesmo não sendo conhecido.

E aí a sorte bateu mais uma vez. O ex-prefeito Tuta, que queria ser candidato a prefeito em 2020, acabou desistindo porque colocaram na cabeça dele que ele não poderia ser por causa de sua “inelegibilidade”. Quem plantou esse negócio na cabeça de Tuta fez com que o ex-prefeito desistisse de 2020 apoiando o correligionário Salmir da loja de Parafuso. Na visão de Tuta, Silva era um empresário sem nada que o abonasse e um vereador com certo destaque.

O interessante nessa história toda, que prova que Salmir tem sorte mesmo, é que só agora em 2024 que Tuta acabou descobrindo que não existia impedimento em 2024 para ele ser candidato a prefeito e muito menos em 2020. Diante disso Tuta caiu de corpo e alma na campanha de Salmir e foi umas pessoas mais importantes na vitória dele naquelas eleições majoritárias. Muitos disseram que se não fosse o Tuta, Silva não se elegeria. Mas existem outros fatos que ajudam para a vitória de Salmir além da já falada sorte. Muita coisa aconteceu que fez com que a eleição caísse no colo de Salmir. Existia a tendência de mudança encravada nos eleitores de Biguaçu. A administração do então prefeito Ramon Wollinger, considerada muito ruim na época foi preponderante para o declínio da situação. O governo da época lançou o vice-prefeito Vilson Alves para a disputa que visava a  sucessão de Wollinger. E ainda pra fechar o ciclo de sorte de Salmir foi a divisão da oposição com uma terceira candidatura encabeçada pelo antigo aliado André Clementino, aquele que ajudou Salmir na campanha a vereador em 2016.

Logo Salmir, um desconhecido e sem rejeição acabou disputando as eleições para prefeito em 2020 com o apoio do maior cabo eleitoral da cidade, o ex-prefeito Tuta, contra Vilson (representante de uma administração pífia) e André, que se lascou como candidato quando estourou o escândalo dos respiradores envolvendo seu mentor, o biguaçuense e secretário da casa civil do estado, Douglas Borba. Era o que faltava para a eleição cair no colo de Salmir. Até porque o partido PODEMOS tinha tudo para alinhar-se ao candidato André que já articulava apoios no começo daquele ano, mas depois do escândalo, Alexandre Martins, que era a grande promessa do partido jurou de pés juntos que nunca estaria num projeto político com um aliado de Douglas Borba. Então Martins acabou sendo vice de Salmir e foi a grande revelação das eleições por causa de sua popularidade fazendo com que o MDB, que nunca tinha ganho eleições no centro da cidade, saísse vitorioso nesse bairro. Alexandre de vice, Vilson representando um governo mal das pernas e André aliado de uma pessoa envolvida no epicentro de um escândalo e Tuta pedindo voto acabou favorecendo Salmir. Tudo deu certo para que Silva ganhasse a disputa e foi isso que aconteceu: Salmir obteve14.063 votos. Vilson Alves teve 8.596 e André Clementino conseguiu 5.878 votos. A soma de Alves e Clementino totalizavam 14474, 411 votos a mais que Salmir. Se Vilson e André corressem juntos a história poderia ter sido diferente.

 

Governo Salmir

 

Aí surge o governo Salmir. Ele colocou jovens dentro das secretarias e valorizou os aliados. Como todo o governo houve críticas dos que não foram prestigiados, mas de uma maneira geral fez um governo de destaque. Cortou gente que poderia queimar sua gestão e aí criou um bocado de inimigo, principalmente alguns que o ajudaram nas eleições. Acabou se desentendo com Tuta. Fez obras que o impulsionaram como bom gestor e não se ouviu falar em corrupção em seu governo. Aí veio mais uma sorte daquelas: a oposição a sua administração foi feita de forma amadora e ridícula. Vereadores do outro lado traziam filminhos de ruas esburacadas e criticavam no varejo. Era cômico assistir as sessões da câmara com as palhaçadas da oposição. Até isso acabou favorecendo o governo Salmir. Eitâ homem de sorte! Com isso a reeleição foi se desenhando. Obras começaram a sair do papel (algumas esquecidas no governo passado como a sede da prefeitura e o ginásio do Deltaville). Outro fato marcante foi ter as contas em dia pois nunca se ouviu falar que o Salmir atrasava pagamentos de fornecedores. E outro mérito de Silva foi a valorização dos funcionários municipais que naturalmente criou um exército dentro de casa que no futuro lhe apoiou nas eleições da semana passada.

 

Reeleição

 

Uma oposição dessas, moral e obra pra mostrar foram a dose que o Salmir queria para articular a reeleição. E foi o que fez: sabendo da pretensão de Tuta (que agora se filiou ao PSD e iria ser o candidato da oposição) começou a fazer o que aprendeu bem nesses 3,5 anos como gestor que é aglutinar apoio e enfraquecer o lado oposicionista (bom de discurso o prefeito acabou virando um especialista na política local). Manteve o PODEMOS junto, trouxe vereadores contrários para perto e desarticulou a pretensão da oposição em trazer o vereador Luan do Bilico para ser vice de Tuta. 

A popularidade de Luan Pereira aliado a de Tuta poderia ser um diferencial que prejudicaria a reeleição de Salmir. Mas Luan (UNIÂO) não resistiu aos benefícios de ser governo e acabou filiando ao MDB de Salmir.

A prova de que Silva fez a coisa certa em trazer o filho do Bilico  para perto foi a votação que o jovem teve para vereador. Pereira foi o mais votado com 1853 votos. Outro fato que mostra uma característica interessante do prefeito de Biguaçu é não guardar mágoas, tanto é verdade que trouxe o André Clementino para ser candidato a vereador em seu partido (André se elegeu bem) e prestigiou a ex-vereadora Magali (aquela que ele se desentendeu nas eleições para a presidência da câmara em 2018) para assumir a secretaria de saúde.

 

Salete de vice: não existia notícia melhor para a pretensão de Salmir em reeleger-se

 

Mas continuando na avaliação da reeleição, veio uma decisiva e impactante sorte. Pelo jeito Salmir, além de qualidades como administrador e político, tem muita sorte mesmo: o Tuta colocou a vereadora Salete Cardoso como sua vice e a coligação da oposição acabou tendo como coordenador de campanha o vereador Pissudo. Aí entregaram mesmo o “ouro” da reeleição a Salmir. A Salete como vice foi o maior tiro no pé da oposição de Biguaçu. O Salmir não precisava nem mais sair pra rua pedir votos depois que o Tuta fez essa besteira. Cardoso fez um efeito clareira na candidatura de Tuta. De competitivo Tuta passou a ser rejeitado porque o que se mais ouvia na cidade é que o Salmir não foi aquele “tudo” mas votar no Tuta tendo a Salete de vice jamais. Será que a oposição não percebeu que água é óleo não se misturam? Que sorte do Salmir hein!

E outro fato foi o Pissudo (PP) como coordenador da campanha de Tuta. O amadorismo dele é tão grande que ele conseguiu com que a maior celebridade do seu partido, que foi o ex-prefeito Castelo (PP), gravasse até vídeo pedindo voto ao 15. O Salmir não queria mais nada. Quanta sorte de salmir hein! Um vídeo do Castelo, que já foi prefeito do PP por duas ocasiões (prefeito do 11) pedindo voto para a sua reeleição era coisa do outro mundo. Essa caiu do céu mesmo. Será que alguém ainda discorda que o homem não tem sorte? Pois tem gente que não acredita que em vida fosse ver uma cena dessas: o Castelo pedindo voto pro 15. Então até isso aconteceu no PP do “coordenador” Pissudo. Esse fato foi a cereja do bolo para que a reeleição de Salmir caminhasse sem obstáculos. A desorganização e incompetência foi tão grande que os vereadores de Tuta só conseguiram duas cadeiras na câmara municipal. Nunca uma oposição ficou tão fraca no legislativo. Inclusive uma oposicionista eleita nem colocava em seus santinhos digitais a foto dos prefeituráveis de sua coligação mostrando total descompasso político na campanha. Os candidatos, que são os soldados e a ponta da lança de uma eleição municipal, estavam descontentes com as promessas não cumpridas e muitos deles boicotaram a majoritária preocupando-se apenas com suas campanhas a vereador. Show de desarticulação e planejamento! Salmir não precisava nem se sobressair, só deixar a oposição ser a oposição que isso já era um fator preponderante para alcançar êxito eleitoral. “Os caras se mataram sozinhos”, confidenciou-me um dos articuladores políticos da situação. Salmir só precisava soltar a corda que a oposição se enforcava por si. Tudo isso mais as articulações políticas bem feitas fizeram com que a equipe de Salmir montasse o melhor time.

 

Vitória acachapante

 

Resultado de tudo isso? Salmir teve 70,01% dos votos válidos. A maior vitória em eleições em Biguaçu. O atual prefeito se reelegeu por causa dos méritos é claro mas a sorte somada a esses fatos como Salete de vice, Pissudo como coordenador, Castelo pedindo voto ao 15, candidatos a vereadores da oposição desacreditados e desanimados, boa gestão e obras para mostrar ajudaram em muito na reeleição do atual prefeito de Biguaçu.

 

Desafios do segundo mandato

 

A responsabilidade nesse segundo mandato do Salmir exponenciou. A grande votação mostrou que o atual prefeito não pode falhar no seu segundo mandato. A cobrança vai ser enorme porque todos deram um cheque em branco pra ele e o Alexandre para que a dupla governe sem obstáculos. O eleitorado elegeu 13 dos15 vereadores e deu aos dois quase 17 mil votos de diferença em relação ao adversário. Tem recado maior que esse? Logo se escorregar na casca de banana, perder a humildade ou se ludibriar com os que ficam dentro da bolha pode ser crucial para um fracasso futuro. Todo cuidado é pouco. Salmir e Alexandre tem tudo para fazer desse segundo mandato um exemplo de gestão e eles podem entrar para a história como a dupla que melhor administrou o município. Apoiadores, vereadores e gente torcendo a favor é o que mais tem. Sorte as vezes não é tudo. Olhem o Ramon que teve também muita sorte também (virou vice do Castelo, depois prefeito com a renuncia do empresário e mais tarde reeleito por causa das obras e poder econômico do Castelo) e conseguiu depois se tornando um ex-prefeito que não consegue nem eleger aliados e parentes como vereadores. Logo eles tem que ter sabedoria para ligar com as vaidades e aprender a receber criticas principalmente aqueles vindas de quem menos espera.

 

Cuidados na composição do novo governo

 

Por isso o Salmir tem que ter muito cuidado em colocar em secretarias estratégicas vereadores eleitos. Isso vai criar uma ciumeira geral. Imaginem vereador dentro de secretaria que trás votos fazendo um trabalho pra si em detrimento dos outros vereadores? Como lidar com uma situação dessas? Vale afunilar apoio para pretensão políticas isoladas  correndo o risco de perder apoio da maioria? Será que tal atitude não é um tiro no pé? Mas vale trazer suplentes para serem secretários do que deslocar eleitos. Esse foi o seu sucesso na primeira gestão do prefeito? Vale a pena mudar o que deu certo?

Salmir tem que trazer para secretarias importantes técnicos preparados e não políticos que só querem fazer política pensando no voto de amanhã. Repito: a população deu um cheque em branco em vocês e não vão tolerar erros. Cuidado com a nova composição do primeiro escalão.

 

Candidatura de Salmir para deputado estadual

 

Outro assunto que corre por ai, que inclusive já foi escrito nessa coluna, são os comentários de que o Salmir será candidato a deputado estadual daqui a 2 anos para deixar o Alexandre como prefeito. Não perguntei diretamente ao prefeito reeleito se isso procede mas muita gente perto dele afirma que é isso que vai acontecer. Essa hipótese tem que ser bem dialogada com a sociedade, até porque o povo elegeu o Salmir para ser prefeito nesses 4 anos e não para dois.

Claro que é muito bom para Biguaçu ter um representante na assembleia legislativa e o Salmir hoje (com uma vitória dessas) é a pessoa mais preparada e com capacidade de poder vencer uma eleição para deputado. Mas esse objetivo tem que ser muito bem dialogado com a sociedade para não ocasionar o efeito contrário pois Silva tem que sair de sua cidade com apoio efetivo e com as pessoas dando-lhe o aval. A opinião dos biguaçuenses e um trabalho de mídia pesado é fundamental para o êxito dessa empreitada.

Salmir já entrou para a história em conseguir varrer tanta gente da oposição para o ostracismo e mediocridade política numa eleição. Agora resta a ele um governo técnico sem erros para poder fazes jus a votação que teve. Todos estão de olhos nos passos dele. Todo cuidado é pouco. Boa sorte ao prefeito!


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