Miguel Pedro Oliveira – Um gancheiro que encontrou o amor de sua vida lá “pras” bandas do Rio Grande.

Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador

Capivaras é um povoado de São José do Norte, no estado do Rio Grande do Sul.

A região pesqueira das cidades de Rio Grande, São José do Norte e outras recebiam dezenas de gancheiros todos nos anos, nas décadas dos anos de 1940 e 1950, atraídos pela “pesca da campanha”, modalidade pesqueira que trabalhavam entre 15 a 18 homens, divididos em 4 embarcações, sob a batuta de um único mestre de pesca.

Os homens trabalhavam na pesca da corvina, anchovas, tainhas, bagres, e outros tipos de pescados, conforme a época. O trabalho acontecia dentro e fora das embarcações, conforme o tempo e a distância que estavam. Quando eles “tomavam pé” já desciam dos lanchões e se jogava n`àgua para facilitar as “puxadas de resdes” como falam.

Entre muitos gancheiros, que deixaram as terras de Ganchos e migraram para as terras gaúchas, está Miguel Pedro Oliveira, um homem que guarda boas recordações daqueles velhos e inesquecíveis tempos.

Nascido em 29 de setembro de 1939, foi batizado com o nome de Miguel, em homenagem a São Miguel, (Anjo Miguel Arcanjo) comemorado no dia 29 de setembro, pela igreja Católica.

Gancheiro, nativo do antigo Porto de Ganchos, Miguel é irmão de Tomás Pedro Oliveira e de Pedro Oliveira Filho, os três são filhos de Pedro Tomás de Oliveira, e de dona Maria Emilia (Fernandes) Oliveira.

O avô paterno, Tomás Oliveira, era simpatizante da UDN, e isso o levou a ocupar a função de Subdelegado Do Distrito de Ganchos, no início do século XX.

Filho de um pescador artesanal e de uma dona de casa, Miguel Pedro Oliveira, teve que trabalhar muito cedo, para ajudar em casa.

“Naquele tempo xará (se referindo a mim por ter o mesmo nome), a gente vivia numa misera grande. Não faltava comida, mas a fartura era só de peixe e de farinha. As outras coisas, a gente tinha que trabalhar pra conseguir. A vida não era fácil não”, comentou seu Miguel durante a conversa.

Sobre a escola, ele comentou: “ Eu não era aluno bom não. Fiquei um bom tempo no primeiro ano, não passei, do primeiro ano. Fui aluno da dona Princeza, dona Pininha, e aprendi pouca coisa.

Se na escola não foi um aluno nota dez, na vida foi um vencedor. Lutou 47 anos de vida na profissão que iniciou aos 16 anos de idade.

Aos 17 anos, foi para o Rio Grande do Sul tentar a vida, procurar ganhar dinheiro para ter uma vida melhor, do que os pais tiveram.

Por lá, da primeira vez que foi, ficou um ano e meio sem vir em casa.

Da segunda vez, ficou dois anos direto lá na lida da pesca.

A vida na época era sofrida, seja no trabalho, ou para vir em casa ver a família.

Para vir em casa ou para retornar ao trabalho, dependiam de um caminhão, e levavam de três a quatro dias para chegar ao destino.

Mas, a vida lhe presenteou com amigos, e lhe deu oportunidade de conhecer lugares e pessoas que faziam parte da região pesqueira onde trabalhava,

Foi em Capivaras, no interior de São José do Norte, que conheceu Tereza, com quem meses depois casavam.

Tereza Bittencourt de Oliveira, nasceu em 1944, no dia 06 de maio.

Filha de Lino Lídio Bittencourt e de Maria Cenira Bittencourt, Tereza, aos 16 anos de idade casou com o gancheiro Miguel Oliveira.

O casal morou em Capivaras juntos com os pais de Tereza por 6 meses, depois vindo residir definitivamente em Ganchos do Meio.

No início, Miguel morou os pais, casa que ele mais tarde adquiriu dos herdeiros, local onde hoje está instalado o banco Bradesco de Ganchos.

Tempos depois, Miguel vendeu a propriedade para o primo Nagib Lobo, e comprou um terreno de João Cardoso, local onde atualmente reside.

No terreno construiu sua primeira casa, que foi substituída depois por outra, e finalmente conquistou uma moradia melhor para viver com a esposa.

 

Sua luta na pesca continuou até se aposentar, em 1983, época que já havia encaminhado na vida.

Pai de 6 filhos (2 homens e 4 mulheres), Miguel Pedro Oliveira, após aposentar ainda prestou serviço para a prefeitura de Governador Celso Ramos, como entregador da conta da água, e prestou serviço na delegacia de Ganchos, a disposição de uma empresa prestadora de serviços.

Hoje, aos 83 anos de idade (completará 84 em setembro), Miguel vive com a esposa Tereza, numa propriedade de onde se contempla a beleza do mar e avista a bela terra de Ganchos do Meio.

A cada dia, seu Miguel constrói páginas da vida,  para os filhos, netos e bisnetos, com  lições de luta, de persistência e de muitas histórias vividas por ele.


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