A demolição de quatro casas na Praia do Forte, no norte da Ilha de Florianópolis, nesta terça-feira (29), gerou forte repercussão social, protestos de moradores e críticas contundentes à forma como as leis urbanísticas vêm sendo aplicadas na capital catarinense. As residências, localizadas próximas à Fortaleza de São José da Ponta Grossa, foram derrubadas após uma longa disputa judicial que se estendia há mais de 30 anos. A decisão partiu da Justiça Federal, que considerou as construções irregulares por estarem em área de marinha e no entorno de um patrimônio tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
A operação foi marcada por tensão. Tratores derrubaram as estruturas sob escolta policial, enquanto moradores realizavam vigílias e tentavam impedir o avanço das máquinas. Muitos alegam que as casas eram moradias consolidadas há décadas, pertencentes a famílias tradicionais com raízes que remontam ao século XVIII.
Apesar de não ter ordenado a demolição, a prefeitura de Florianópolis foi envolvida na polêmica. O prefeito Topázio Neto tentou interceder para suspender a ação e buscar uma alternativa conciliatória, mas a decisão judicial prevaleceu. “Não é uma ação da prefeitura. Nós tentamos evitar, mas foi uma ordem judicial e temos que cumprir”, afirmou Topázio em nota oficial.
A indignação popular, no entanto, não se limita ao cumprimento da ordem. O caso escancarou o que muitos chamam de “dois pesos e duas medidas” na política de fiscalização urbana da cidade. Em outras regiões da capital, como encostas de morros e áreas ambientalmente sensíveis, há loteamentos clandestinos crescendo a olhos vistos, sem estrutura adequada, sem saneamento e sem qualquer ação efetiva do poder público. Nessas áreas, a ocupação irregular e perigosa é muitas vezes ignorada pelas autoridades.
A crítica central gira em torno da seletividade. Por que agir com rigidez contra famílias que vivem há décadas em imóveis consolidados, mas permitir a expansão desordenada e recente em áreas de alto risco ambiental e geológico? Para muitos, a resposta está no valor imobiliário da região onde a demolição ocorreu — vizinha à valorizada Jurerê Internacional, foco constante de especulação e pressão econômica.
O episódio da Praia do Forte representa, para moradores e urbanistas, mais do que a derrubada de construções. Ele simboliza a fragilidade da justiça social no debate urbano de Florianópolis, onde leis ambientais e decisões judiciais parecem ser aplicadas com rigidez seletiva, afetando de forma desproporcional aqueles que têm menos poder de influência.
A expectativa agora é de que novas audiências de conciliação possam evitar que outras famílias da região sejam igualmente removidas. Enquanto isso, a imagem das casas ao chão se tornou símbolo de uma cidade que ainda busca equilíbrio entre preservação, justiça e humanidade.
Abaixo o leitor poderá clicar e visualizar uma reportagem feita pelo NDTV