Florianópolis: ERRO Grupo volta à cena com projeto de pesquisa em Florianópolis e Barcelona sobre a velhice e debate questões como solidão, pertencimento e morte

Reconhecido por suas montagens originais, fruto de muita pesquisa e experimentação, o ERRO Grupo coleciona apresentações no Brasil e no exterior.

Sarah Ferreira, Luiz Henrique Cudo e Michel Marques. (Foto: Divulgação)

Dois países (Brasil e Espanha), mais de duas décadas de história e um projeto que envolve pesquisas sobre o envelhecimento e vai levantar discussões públicas sobre questões emblemáticas no espaço urbano como sabedoria, solidão, pertencimento e morte. O ERRO Grupo de Teatro volta à cena com atualizações em suas técnicas de criação tendo como ponto de partida uma série de entrevistas realizadas nas ruas de Florianópolis e Barcelona. Todo esse trabalho resultará num espetáculo teatral inédito, que deverá ser apresentado gratuitamente à população em março do próximo ano, quando o ERRO completará 23 anos de fundação.

 

Com o título "Etnografia para a obra Peça de Mercado (ou Cinema Antigo)"o projeto é financiado com recurso público oriundo do Edital de Apoio às Culturas 2021. Realização Prefeitura Municipal de Florianópolis, da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, FCFFC e Fundo Municipal de Cultura.

 

O novo trabalho do ERRO Grupo é um projeto de pesquisa que se propõe a construir a dramaturgia e caminhos para uma intervenção urbana artística, uma peça inovadora de teatro de rua, que levará seu público a olhar para uma vitrine através de uma perspectiva diferente, um olhar físico e reflexivo sobre situações cotidianas a partir da da velhice. Os trabalhos práticos do projeto, que começaram em Fevereiro deste ano e encerram no próximo mês de Julho, estão divididos entre pesquisas, construção dramatúrgica, publicação e, ao final, divulgação dos resultados da pesquisa. Este projeto tem sido realizado no Centro da cidade de Florianópolis e terá as divulgações dos resultados da pesquisa nos ambientes da internet: redes sociais, youtube e webpage do ERRO Grupo. Desta maneira, serão ampliadas a descentralização geográfica e a capilaridade do projeto em circulação por outros diferentes ambientes e possibilidades, além das ruas do Centro da cidade.

 

"Este trabalho marca uma retomada das ações de pesquisa do ERRO nas ruas após um hiato ocasionado pela distância geográfica, pois dois integrantes estão em Barcelona desde 2019, e pelo isolamento e distanciamento provocado pela pandemia da COVID-19. Esse fator por si só já tem uma força e importância enormes na nossa trajetória", comenta Luiz Henrique Cudo, que, além de produtor do projeto, também participa da pesquisa e entrevistas. Sobre o trabalho atual do grupo, ele observa que "é um olhar sobre o envelhecimento das pessoas, suas memórias e relações nas ruas após esse período (a pandemia) e traça também um paralelo tremendo com o nosso próprio envelhecimento, artístico e profissional."

 

Sarah Ferreira, que nesse projeto é pesquisadora, entrevistadora e assina a edição audiovisual, comemora e reflete sobre o atual momento do grupo. "Este trabalho é a retomada das metodologias de pesquisa e criação do ERRO após um momento em suspenso por conta da pandemia de COVID-19 e dos fomentos culturais escassos após o desgoverno de Bolsonaro. Voltar para as ruas, estar em contato com as pessoas é de fundamental importância para a sobrevivência do ERRO". 

 

Já Pedro Bennaton, que é pesquisador, dramaturgo e também realiza a edição das entrevistas, fala que o projeto, além de refletir sobre um tema que é inerente a um grupo com mais de duas décadas de atuação (o envelhecimento), "também carrega uma potência de inovação nas técnicas de criação em colaboração com o público desenvolvidas pelo ERRO em suas obras de, na, para e com a rua e a cidade." Ele completa que Peça de Mercado (ou Cinema Antigo) "possui um processo de criação colaborativa desde seu início, isto é, a criação se dá junto às pessoas envolvidas desde a construção dramatúrgica, etapa de criação da peça que este projeto atual circunscreve."

 

A rua, a visibilidade, o consumo

 

O desenvolvimento do projeto, segundo a justificativa dos integrantes do ERRO, carrega grande influência do Teatro Fórum e Teatro Invisível de Augusto Boal (foi diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro e criador do Teatro do Oprimido), adequando ao diálogo com as práticas situacionistas, criando situações dialógicas e etnográficas com as pessoas e o espaço urbano, poéticas desenvolvidas de forma prática e teórica pelos membros do ERRO desde 2001 em Florianópolis. "Por isso, as investigações localizadas nos espaços públicos do centro da cidade de Florianópolis procuram criar espaços de diálogo e reflexão, através de experiências artísticas urbanas que exploram as possibilidades de atividades etnográficas e culturais no espaço urbano específico desta comunidade envolvida, seus espaços de visibilidade, rede de relações e atividades de rua."

 

Destaque para esse trecho na justificativa do projeto:

 

  • Ao caminhar pelo centro de uma cidade é possível sentir o papel onisciente do consumismo. As vitrines brilhantes, assépticas e multicoloridas irradiam de uma forma quase transcendente, tudo o que o sonho de consumo pode, e configura o horizonte dos indivíduos, desejos, necessidades e possibilidades. Elas também refletem as novas exigências sociais de rentabilidade, eficiência, produtividade e expõem a velocidade pragmática com que gira a roda do mundo hiper capitalista contemporâneo. Parece que na cidade só há espaço para o novo.
  • Neste movimento vertiginoso, não há espaço para a lentidão, para o que não se adapta às constantes novidades, para corpos lentos, velhos, frágeis e improdutivos. Nas vitrines, espécies de oráculos contemporâneos, não há manequins de corpos velhos. Os idosos neste cenário não têm espaço, não estão representados no imaginário das possibilidades, dos planos atuais.

 

Segundo avaliam os integrantes do ERRO Grupo, "a complexidade do lugar da velhice foi ainda mais agravada pela pandemia de COVID-19. A decisão de quem sobrevive em uma pandemia em caso de ocupação extrema das UTIs é baseada na idade da pessoa doente e suas outras doenças, ou seja, o corpo que sobrevive é aquele que já tem a melhor chance de sobrevivência, e não o contrário. Esta lógica acrescenta mais depreciação aos corpos antigos, a obsolescência programada dos produtos atinge uma lógica ainda mais perversa quando é dirigida à vida humana. Em uma sociedade que visa extrair o máximo de eficiência e produtividade dos corpos, um corpo que já não produz mais não tem mais valor. Não vale nem mesmo um manequim."

 

 

A trajetória do ERRO Grupo

 

O ERRO nasceu no ano de 2001 em Florianópolis, Santa Catarina (Br), a partir do objetivo de seus integrantes de experimentar a arte como intervenção no cotidiano das pessoas e sua interdisciplinaridade de conceitos e áreas de linguagem, explorando os espaços urbanos como campos de atuação através da criação de possíveis situações e relações entre quem circula pelas ruas, procurando outros modos de viver e inserir-se na cidade. 

 

Com 22 anos dedicados ao teatro de rua, e a performance, o ERRO pesquisa a união das linguagens artísticas, o ator/performer e a diluição da arte no cotidiano através da interferência nos fluxos do dia a dia na cidade, na rua, na paisagem urbana e nos meios de comunicação, seus significados, ambientes, arquiteturas, leis, e discursos.

 

Além da publicação de seus livros Poética do ERRO: dramaturgias e Poética do ERRO: registros (2014), Persistência (2016), e Jogo da Guerra – Dialéticas de uma intervenção urbana: antagonismos, ironias e fracassos (2019), o ERRO Grupo circulou com seu trabalho, com apresentações e oficinas, por mais de 70 cidades do Brasil, além de outras internacionais como Cidade do México, Austin, Nova Iorque, Buenos Aires, Bogotá, Santiago, Montreal, Barcelona, Timisoara, Sfantu Gheorghe, Sibiu, Bucareste e Paris. 

 

Destacam-se nos últimos anos a participação do ERRO em: 2021 – Diada de Sant Jordi, Festa Major de Gràcia, La Mercè, Barcelona; 2020 – Edital #SCulturaemSuaCasa, Ciclo de Teatro Crítico; 2019 - XI Encuentro do Hemispheric Institute of Performance and Politics, Cidade do México, com 24o. Debate Púbico / Desnudo Àgora; 6o Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha, Itajaí, 24o Festival Isnard Azevedo, Florianópolis, e Transborda - As linguagens da cena 3, em Recife, com Jogo da Guerra; 2018 - Exposição MASC 70 anos, arte contemporânea catarinense, Museu de Arte de Santa Catarina, com PACTO; 2017 - com 23o Debate Público (nome artístico) / Jogo Ágora (nome completo), Festival de Teatro de Curitiba – Fringe, e Festival Nacional de Teatro de Chapecó; 2016 - em Nova Iorque, Pen World Voices Festival, com A NY BODY, e também realizando a ação Dollars Buy Brazil's Coup na mesma cidade; Simpósio TREMOR; Festival Palco Giratório SESC; VERBO – Mostra de Performance Arte; Festival Internacional de Teatro Atellier, Sfantu Gheorghe, contemplado pelo Premiul pentru Muzicã de Scena (prêmio pela música de cena); Festival Internacional de Teatro de Sibiu; Festival Street Delivery, Bucareste; Festival al Dramaturgiei Romênesti, Timisoara; Entre 2010 e 2012 o ERRO foi contemplado pelo Programa Petrobras Cultural e Rumos Itaú Cultural Teatro.

 

Em Barcelona, o grupo trabalhou nos seguintes projetos: PIM-PAM para a 34a Bienal São Paulo 2021 e DESNONISSEA - Arts Santa Mònica, ambos em 

colaboração com o diretor catalão Roger Bernat; e em suas criações como ERRO em terras catalanas com os projetos no hay citas disponibles., SHOWROOM e Peça de Mercat (o Cine Antic). Este último, diretamente relacionado ao projeto atual em Florianópolis, foi desenvolvido em uma residência artística no Centre Civic Can Felipa e contou com o incentivo da bolsa de pesquisa Beques de la Generalitat de Catalunya per l'innovació i recerca en Arts. Ainda que relacionados, o projeto desenvolvido na Espanha possui uma formalização artística e um conteúdo distinto do que o grupo prepara em Santa Catarina, caracterizando-se como dois projetos diferentes em seus fins, mas com metodologia similar.

Em Barcelona, Peça de Mercat (o Cine Antic) além da participação dos dramaturgos do ERRO Grupo, contou com a colaboração de Tereza Sanz e do ator catarinense Clei Grött.

 

 

Ficha Técnica

 

Realização - ERRO Grupo

Direção - Pedro Bennaton

Dramaturgia e investigadores - Luana Raiter e Pedro Bennaton

Pesquisadores e entrevistadores - Sarah Ferreira, Michel Marques e Luiz Henrique Cudo

Edição Audiovisual - Sarah Ferreira

Edição de Som e Sonoplastia - Luana Raiter e Pedro Bennaton

Design - Luara Raiter

Assessoria de Imprensa - Linete Martins Assessoria

Produção - Michel Marques e Luiz Henrique Cudo

Etnografia para a obra Peça de Mercado (ou Cinema Antigo) é um projeto do ERRO Grupo de Teatro.

Projeto financiado com recurso público oriundo do Edital de Apoio às Culturas 2021.

Realização Prefeitura Municipal de Florianópolis, da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, FCFFC e Fundo Municipal de Cultura.

 

 

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