Trinta anos quebrando paradigmas

Há quatro anos o nosso eterno editor, Ozias Alves Jr (1973-2021), escreveu um editorial para o aniversário de 26 anos do jornal. Hoje, completamos 30 anos e o que relatou Ozias na época continua valendo. Nosso jornal começou em 1993, com uma edição mensal de apenas oito páginas. Circulou durante 14 anos com uma edição impressa diária e, hoje, continua um jornal diário (4x por semana digital e 1x por semana impresso) que atinge 7 municípios da Grande Florianópolis, mantendo sempre o foco regional. 

Abaixo o que escreveu Ozias, o idealizador e fundador do JBFoco: 

“Impressionante como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que iniciamos nossas atividades. Se é impressionante como o tempo passa rápido, impressionante também é como o mundo muda e vem mudando. Quando iniciamos nosso trabalho em agosto de 1993, Biguaçu raramente aparecia no noticiário. Os jornais que circulavam em Biguaçu eram os estaduais e o município não gerava notícias, a não ser se houvesse alguma enchente ou outra calamidade ou o prefeito fosse afastado. Aliás, em fevereiro de 2000, o prefeito da época foi afastado do cargo (o que 10 anos depois constatou-se ter sido uma grande injustiça) e Biguaçu foi invadida por batalhões de repórteres de tudo que era jornal, televisão e rádio. Um repórter da RBS (hoje NSC) perguntou ao oficial de justiça qual era o nome do prefeito de Biguaçu? Quer dizer, mesmo tão próximo à capital, o repórter de Florianópolis ignorava o nome do prefeito e, se bobear, poderia pensar que Biguaçu era um “bairro” da capital. Entre agosto de 1993 a agosto de 2003, circulamos mensalmente. Em 26 de agosto de 2003, transformamos o JBFoco num jornal diário. Era o primeiro jornal regional do interior da Grande Florianópolis (ou seja, dos municípios da microrregião fora da capital) a ser transformado em diário. Além de quebrar o paradigma, na época em que trabalhávamos para transformar o jornal em diário, ouvimos de várias pessoas: “será que vai ter notícias todo dia?”, ou seja, na cabeça deles, acostumados com o fato de Biguaçu nunca ser notícia, achavam que lançar um jornal diário só focado em notícias da cidade no mínimo era uma “maluquice”. Quebramos esse paradigma e inclusive os jornais estaduais, que antes não davam importância ao município, agora tentam atender a região. Ou seja, o JBFoco colocou Biguaçu no mapa. Nestes 26 anos (hoje 30 anos), o JBFoco foi literalmente o fórum de discussões e o registro cotidiano da história da região. Tivemos nossos altos e baixos, mas aqui ainda estamos firmes como o jornal mais lido, amado, odiado e comentado da comarca. Afinal de contas, ninguém agrada a gregos e troianos. Aos leitores e patrocinadores, nosso “Muito Obrigado” e vamos em frente, pois o tempo não para.” 

Ozias Alves Junior Editor

Trinta anos de muito suor e lágrimas

Esta foto foi tirada em Areias de Baixo, Governador Celso Ramos, no final da década de 1990, na época em que o JBFoco era uma publicação mensal. Era o final de mais um longo e cansativo dia de trabalho. Nesse dia, Ozias Alves Junior e seu irmão, Décio Alves, tinham chegado bem cedo ao município, onde passaram o dia andando, batendo de porta em porta, vendendo anúncios, fazendo entrevistas e tirando fotos. Foi um dia muito, mas muito produtivo. Venderam um bom número de anúncios e fizeram inúmeras matérias. Quando estavam voltando para Biguaçu, no final da tarde, pararam no bairro de Areias de Baixo e tiraram fotos de algumas obras da prefeitura, entre elas a pavimentação da rua principal da localidade. Nesta foto que o Décio tirou, o Ozias aparece de costas caminhando pela rua. Ele estava indo rapidamente falar com um morador, o seu último entrevistado daquele dia. O que chama a atenção na imagem é o suor nas suas costas. Ele estava realmente bem suado e a camisa encontrava-se totalmente encharcada. Afinal de contas, foi um dia muito intenso de trabalho, mas Ozias estava muito feliz. Talvez esta foto resuma parte dos 30 anos do JBFoco: muito trabalho, muita luta, muitas vitórias, algumas derrotas, incompreensões, acertos, erros, mas sempre em frente porque trabalhar é preciso. 

Na época, Ozias assim se manifestou sobre este flagrante fotográfico do seu passado de lutas pela implantação de um jornal comunitário: “Quando colocamos a cabeça debaixo do travesseiro dormimos muito bem, pois temos plena consciência de que nosso trabalho é honesto, não trilhamos caminhos fáceis, nem obscuros, e sabemos que estamos dando nossa contribuição, por pequena que seja, para o progresso da nossa região.”

Buscando novos desafios

O que motivou os irmãos Décio e Ozias Alves a lançar o JBFoco há 30 anos? Em primeiro lugar, idealismo. Entendiam eles que as pequenas e médias cidades precisam dispor de um jornalismo que não fosse feito na base do improviso e sem qualificação. Segundo a sua visão, se as capitais e grandes centros tinham jornais diários, alguns de notória qualidade, atendendo seu público, por que não oferecer o mesmo para as pequenas e médias cidades? Ozias Alves Junior sempre dizia que “é verdade que as pequenas e médias cidades, muitas vezes, são assim por causa de pequenas e médias mentalidades, mas a vida, não importa onde nos encontremos, sempre vai nos colocando os obstáculos à nossa frente para os superarmos”. E hoje, com orgulho e senso do dever cumprido, completamos 30 anos de caminhada e não paramos no tempo. Pelo contrário, estamos com novas ideias, nova postura, muito mais dinâmica, novos compromissos com a verdade e com o jornalismo construtivo sério, conforme os leitores vêm acompanhando ao longo dos últimos meses. A todos os nossos leitores, anunciantes e amigos, o nosso muito obrigado pelas inúmeras manifestações de apoio e confiança recebidas, alusivas ao nosso aniversário. E vamos em frente, noticiando e defendendo o desenvolvimento pleno de nossa comunidade regional.

Fato Histórico no dia 6 de agosto de 1993

 

Há 30 anos, no dia 6 de agosto de 1993, ocorreu, na Comarca de Biguaçu, um fato histórico muito importante: o JBFOCO iniciava sua trajetória vitoriosa. Seus fundadores (Ozias Alves Júnior, Décio Baixo Alves e Ivonilde Maria Baixo) adotaram o lema “LABOR OMNIA VINCIT IMPROBUS”, significando que o trabalho perseverante vence os obstáculos. Sabemos que na caminhada muitos foram os obstáculos enfrentados. Logo no início, os incrédulos diziam que o jornal não conseguiria sobreviver. Os pequenos e poucos patrocinadores estavam receosos. A fraca arrecadação de dinheiro não dava para contratar uma equipe de trabalho jornalístico profissional. Com muita fé e união, o trio de fundadores começou a exercer diversas funções, como as de jornalista, comercial, financeiro e marketing. O JBFOCO, então, foi aceito, reconhecido e valorizado por toda a Comarca de Biguaçu, sendo necessária a circulação diária do mesmo. Até o município vizinho, São José, foi premiado com a circulação do SÃO JOSÉ EM FOCO (SJFOCO). Os fundadores conseguiram montar uma competente equipe de profissionais, que não mediram esforços para fazer um jornal diário cada vez melhor. Até os candidatos a Prefeitos pela Comarca de Biguaçu ganharam espaço, gratuitamente, para registrarem seus programas de governo, caso fossem eleitos. Nesta caminhada, os pesquisadores sempre encontram nas páginas do JBFOCO, fatos históricos relacionados com a comarca. Sabemos que, dos 293 municípios de Santa Catarina, a grande maioria não dispõe de um jornal próprio, por isso os biguaçuenses, nesta data festiva de aniversário do JBFOCO, não só devem dar os parabéns, como também externar os agradecimentos aos fundadores que acreditaram nos destinos da Comarca de Biguaçu, mesmo tendo sofrido algumas injustiças. (Texto com adaptações do original escrito pelo historiador em 06/08/2019) Joaquim Gonçalves dos Santos (Historiador).

Evolução ao longo do tempo

A primeira edição do jornal Biguaçu em Foco, que foi às ruas em 6 de agosto de 1993, saiu com oito páginas em formato tablóide. Éramos um jornal de circulação mensal. Ao longo do tempo, ele foi ampliado para 32 e chegou a 44 páginas. Entre agosto de 2002 e agosto de 2003, o JBFoco experimentou uma mudança no formato de suas páginas: passou de tabloide para standard. Em exatos 10 anos, entre agosto de 1993 a agosto de 2003, o JBFoco, como é conhecido, foi uma publicação de circulação mensal. Em 23 de agosto de 2003, passou a circular diariamente. Em 2005, foi premiado pela Adjori com o troféu Melhor Reportagem do Ano. O editor Ozias Alves Jr escreveu uma matéria sobre um professor chamado Carlos Amaral Freire, que conquistou uma façanha: o de ter estudado 110 idiomas. De lá pra cá, vem deslanchando com matérias que movimentam Biguaçu, fazendo história e também desenhando em suas páginas a história deste município tão querido. Nestes 30 anos, o JBFoco esteve presente em momentos inesquecíveis de Biguaçu. Hoje o jornal circula de forma impressa todas as sextas-feiras e de forma diária no formato digital. Sua circulação, tanto impressa quanto digital, atinge sete municípios da Grande Florianópolis e sempre foca na notícia regional.

 

Um jornal que sempre lutou pela Cultura e pela Memória da Comunidade 

Uma característica que distingue o JBFoco dos demais jornais é a sua preocupação em registrar a história comunitária. Sim, a história da comarca de Biguaçu. Em 1998, publicamos um encarte especial intitulado “Breve História de Biguaçu”, com uma história do Município em linguagem mais simples. Por que esse encarte? O editor do JBFoco havia percebido que os estudantes não tinham material de consulta sobre a história de Biguaçu. Os livros disponíveis sobre o assunto eram antigos e em linguagem não muito acessível aos mais jovens. Visando atender essa demanda, o JBFoco publicou tanto esse encarte já especificado como também um outro livro de história de Biguaçu, maior e mais amplo, em 1999, que recebeu o título de “Biguaçu: 251 anos de História”. Ao longo dos anos, temos publicado biografias de pessoas de destaque tanto de Biguaçu quanto de Antônio Carlos e Governador Celso Ramos.

Um jornal que sempre lutou contra o atraso 

 

Jornalismo é também um sacerdócio. Jornal que é jornal de verdade é, ou deve ser, o porta-voz da comunidade, lutar contra qualquer tipo de mediocridade e atraso. E uma bandeira de luta é fiscalizar o poder público, denunciar o que estiver errado, exigir justiça, trabalhar para que o dinheiro público, extraído do suor do trabalhador, não seja desperdiçado. E o Jornais em Foco têm orgulho de, ao longo dos últimos 30 anos, ter tido inúmeros embates contra a corrupção, contra o equívoco e o atraso. Se fôssemos enumerar todas as denúncias, dariam um livro. Fomos responsáveis pela abertura da primeira CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da história de Biguaçu. Tivemos vitórias, algumas derrotas e muitas lições com a experiência de denunciar a corrupção. Por essa postura, é claro que conquistamos tanto amigos quanto inimigos. É o preço a se pagar. Mas é o nosso destino: se queremos uma comunidade melhor, temos de cumprir nosso dever de fiscalizar o poder público e denunciar o que estiver errado. Se a imprensa é o alicerce da democracia, esta não se faz por omissão. Temos cumprido com o nosso dever de cidadão. Ozias sempre dizia: “Político que enriquece em mandatos sem justificativa plausível é corrupto.”